Módulo 2Novas exigências da gestão em saúde

Introdução

Desde os primórdios do século XX, inúmeros estudiosos vêm se empenhando na identificação das características capazes de viabilizar a excelência gerencial. Na contemporaneidade, novos perfis de competência e novos modelos gerenciais são exigidos para que os gestores possam tomar decisões frente aos novos problemas. Muitos desafios relacionados à gestão do trabalho em saúde já foram apresentados no Módulo 1; vamos agora discutir sobre exigências de novos perfis e modelos gerencias diante do cenário atual.

Este módulo está organizado em dois temas:

  • Tema 2.1. Competências transversais de gestão e seus desafios
  • Tema 2.2. O desafio da indissociabilidade entre gerir e cuidar

Para continuar seus estudos, siga para o Tema 2.1. Competências transversais de gestão e seus desafios.

Tema 2.1Competências transversais de gestão e seus desafios

Caderno de Estudo

O conteúdo deste tema deve ser estudado no Caderno de Estudo.

Passe, agora, para o Caderno de Estudo e estude o Tema 2.1. Competências transversais de gestão e seus desafios. Lá você encontrará orientações para voltar a navegar neste material.

Pelo que leu, até agora, no Caderno de Estudo, você deve ter notado que reforçamos a ideia de que o alinhamento estratégico se concretiza pelo gerenciamento do ciclo do desempenho, o qual exige competências transversais que fortaleçam o elo entre o desempenho dos indivíduos, das equipes e da organização.

Para isto, destacamos que a administração do desempenho humano é o processo responsável pelo equilíbrio da relação entre o ambiente externo e o interno, sob a maestria do gestor.

Com base na leitura do ambiente, este orienta a elaboração de planos de trabalho, acompanha a evolução de resultados desejados, avalia o nível da contribuição das pessoas e das equipes para o alcance do previsto, identifica os fatos geradores das lacunas de desempenho e, finalmente, toma decisões para eliminar as fontes de problemas e para promover o desenvolvimento contínuo dos colaboradores.

Com isso, finalizamos o Tema 2.1. Agora, você pode avançar para o Tema 2.2. O desafio da gestão da mudança.

Tema 2.2O desafio da indissociabilidade entre gerir e cuidar

Para finalizar esta unidade de aprendizagem, vamos discutir o último tema de nosso curso. Embora não seja um assunto novo, ele se constitui em um dos maiores desafios para a gestão em saúde na atualidade.  

Embora com muitos avanços, a área da gestão em saúde ainda convive com forte influência de modelos verticalizados, em que os modelos de atenção (modos de cuidar) estão dissociados dos modelos de organização (modos de gerir).  

Tal separação tem ratificado a concepção de gestão reduzida à administração do sistema de saúde, quase sempre centrada na figura do gestor. Esse modo de organização de processos de trabalho reforça relações marcadas pelo poder da gestão e pela alienação do trabalhador, tendo em vista sua não participação nas decisões, nos processos de trabalho.

Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio.
CAMPOS, G.W.S. A saúde pública e a defesa da vida. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

Segundo Campos (2006), para a Teoria Geral da Administração as pessoas são percebidas como se elas fossem coisas, sem vontade ou projetos próprios. A cultura tradicional tem um objetivo disciplinador para realizar tarefas, sem considerar sua autonomia, iniciativa crítica, apostando na domesticação do comportamento dos trabalhadores.

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Cogestão e neoartesanato: elementos conceituais para repensar o trabalho em saúde combinando responsabilidade e autonomia. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2010, v. 15, n. 5, p. 2337-2344. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000500009. Acesso em: 9 novembro 2022.

Como já vimos, essas questões, quando presentes no cotidiano das práticas de saúde, mostram que quanto mais o trabalho é pautado em relações hierarquizadas, menos lugar há para a escuta, a participação e o comprometimento e maior é o sofrimento do trabalhador.

Ao descrever um método de cogestão ou gestão compartilhada para a organização de saúde, Campos (2010) afirma a necessidade de se investir em mudanças para a criação de novos modelos de gestão, com a participação dos trabalhadores, não só na atenção à saúde, mas também na sua produção. Isso para que ocorra maior democratização dos serviços e para que o trabalhador, ao ser inserido nesse processo, possa ter maior autonomia e responsabilização, contando com formas de controle do trabalho e considerando, além da perspectiva dos usuários, um saber estruturado sobre saúde.  

Leitura complementar

Para aprofundar as ideias do autor, sugerimos a leitura completa de Cogestão e neoartesanato: elementos conceituais para repensar o trabalho em saúde combinando responsabilidade e autonomia (CAMPOS, 2010).

A indissociabilidade dos processos de gestão e atenção tem, portanto, o objetivo de reorientar as práticas e a organização dos serviços de saúde, a partir da democratização das relações de trabalho, do modo coletivo de produção da saúde e de uma gestão mais participativa.  

Significa que não há separação entre os modos de gerir e os modos de cuidar; eles são modos complementares e interdependentes e é essa interdependência que caracteriza as possibilidades de se pensar novas formas de organização dos processos de trabalho.

CECÍLIO, L.C.O. Apontamentos teórico conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2011, v. 15, n. 37, p. 589-599. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-32832011000200021. Acesso em: 9 nov. 2022.

Assim, a indissociabilidade entre os modos de gerir e o de curar demanda uma outra forma de organização dos processos de trabalho que transcende seus aspectos tecno-assistenciais.  

Esses aspectos poderão contribuir para o reconhecimento das dificuldades e sofrimentos causados pelo trabalho, visto que no trabalho em saúde, além do fazer objetivo, há uma dimensão subjetiva que diz respeito à maneira como cada um age frente a determinadas questões e tarefas. Isso significa graus diferentes de dificuldades frente aos imprevistos e situações que aparecem no cotidiano do trabalho.

É preciso refletir sobre os modos instituídos que permeiam esses processos, no sentido de intensificar a quebra de possíveis barreiras entre a gestão e a atenção, incorporando assim a gestão do cuidado.  

Segundo Cecílio (2011), a gestão do cuidado contempla várias dimensões: individual, familiar, profissional, organizacional, sistêmica e societária.

Nos processos de trabalho em saúde observamos mais diretamente as dimensões do cuidado: profissional, organizacional e sistêmica. Conheça cada uma delas, clicando nos itens a seguir:

É na dimensão profissional que ocorre o encontro entre trabalhador e usuário, exigindo competências técnicas e postura ética dos profissionais, mas também uma escuta qualificada para a construção de vínculos com aqueles que necessitam de seus cuidados.

A dimensão organizacional está relacionada aos serviços de saúde no que se refere à equipe de trabalho, à coordenação das atividades, à comunicação e à função gerencial em si. Aqui o gestor se defronta com novos e variados atores, novas questões, novos problemas e novos desafios.

A dimensão sistêmica engloba um conjunto de serviços de saúde, com suas diferentes funções e diferentes graus de incorporação tecnológica e os fluxos definidos por protocolos e redes de cuidado em diferentes níveis de complexidade. Nessa dimensão se encontram as regras e responsabilidades que são objetos mais definidos da gestão (coordenação, avaliação e controle).

Para Cecílio (2011), as dimensões profissional e organizacional do cuidado estão intrinsicamente relacionadas; portanto, o trabalho gerencial ideal deverá se ocupar também dessas duas dimensões, com suas especificidades e, ao mesmo tempo, notável interdependência.

Assim, na perspectiva da complementariedade entre gestão e cuidado, gerir implica novas formas de pensar e cuidar da saúde, confrontando as tendências tecnocráticas e antagônicas, o que impõe diversos desafios.  

Gerir requer mais do que mudanças e/ou aprimoramentos técnicos e procedimentais, mais do que refinamento e racionalização administrativa e gerencial; requer apropriação dos processos de trabalho com base em uma ética de coimplicação na produção de saberes, das práticas e das relações no campo da saúde, por meio do aumento do grau de comunicação, de colaboração e de compartilhamento entre atores, nas diferentes instâncias gestoras.

Para avançar nos modos de gerir, será preciso enfrentar os obstáculos políticos, de gestão e de reorganização do modelo de atenção, cuidando, ao mesmo tempo, de demonstrar a viabilidade da universalidade e da integralidade da atenção à saúde e de superar a fragmentação existente nas ações de saúde com o propósito de provocar a emersão de mudanças subjetivas.

Essa não é uma tarefa fácil, mas acreditamos que você, ao elaborar e operacionalizar o projeto de intervenção proposto por este curso, está, de forma efetiva, contribuindo para as mudanças no modelo gerencial e para o enfrentamento dos desafios contemporâneos apresentados nesta unidade.

Leitura complementar

Por fim, oferecemos como presente o texto A morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói: elementos para se pensar as múltiplas dimensões da gestão do cuidado. A nosso ver, um belo texto, de Luis Carlos Cecílio (2009), que apresenta múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Nesse texto o autor nos alerta sobre os riscos de excessivas instrumentalizações e formalizações da gestão e da relação entre profissionais e usuários, o que poderá dificultar encontros “verdadeiramente cuidadores”.   Vale a pena ler!

Palavras finais

Estamos chegando ao fim desta unidade. Em linhas gerais, nosso interesse foi fortalecer a ideia de que mudanças de valores vêm afetando as organizações em todo o mundo e, por decorrência, estas vêm instigando questionamentos em profissionais comprometidos com mudanças transformadoras.

Como nos tornarmos atores do processo de transformação, compartilhando responsabilidades, superando a inércia, interesses menores ou hábitos arraigados?

Sabemos que, neste momento, você já deve estar com o seu projeto de intervenção quase pronto para a banca de avaliação. Com isso, você terá cumprido os requisitos necessários para a conclusão do curso.

Desejamos um bom trabalho, uma ótima apresentação e excelente defesa!

Agora, faça a atividade de envio que está disponível no ambiente virtual de aprendizagem, conforme o cronograma.