A construção de redes de serviços é um desafio de enorme complexidade; envolve uma gama de dimensões, que vão desde a definição do “desenho” da rede – compreendendo as várias unidades, seus diferentes perfis assistenciais e a articulação funcional entre elas – até os mecanismos de gestão, financiamento e avaliação de resultados.
Neste módulo apresentamos conceitos básicos a partir dos quais se organizam as redes de serviços e as particularidades de sua configuração, considerando que a forma específica como serviços e ações são organizados não necessariamente deve ser a mesma em todos os casos. Pelo contrário, embora seguindo os mesmos princípios, a conformação específica da rede em cada caso pode e deve ser diferente, levando em conta as especificidades locais.
Buscaremos, ainda, discutir a necessidade de mecanismos específicos de articulação entre os níveis de atenção e a correlação entre os mecanismos de gestão de redes e o planejamento em saúde.
Este módulo está organizado em sete temas:
Agora você pode avançar para o Tema 1.1. Configuração de redes de atenção: conceitos fundamentais.
A construção de redes baseia-se no fato de que, na maioria das populações, são mais frequentes os casos que necessitam de atenção realizada em serviços de menor complexidade – ou de menor densidade tecnológica – do que aqueles de maior complexidade. Para utilizar exemplos extremos, felizmente são mais frequentes os casos de gripes, diarreias e crises hipertensivas do que de tumores cerebrais.
Portanto, para que se possa atender às necessidades de saúde, são necessários mais serviços capazes de atender casos de gripes e diarreias do que capazes de realizar neurocirurgias eletivas. Além disso, os primeiros devem necessariamente estar mais perto da população do que os segundos.
Por outro lado, a instituição de serviços de neurocirurgia pressupõe equipamentos sofisticados e caros, e recursos humanos altamente treinados e mais escassos.
Para que seja justificado o investimento do ponto de vista econômico – e social, quando se trata de serviço público, financiado com recursos públicos –, é necessário um número suficiente de casos para que esse serviço não se torne ocioso.

Continue, agora, o estudo dos Temas 1.1 e 1.2 deste módulo no Caderno de Estudo desta unidade.
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Agora você pode avançar para o Tema 1.2. Configuração de redes de atenção: funções e perfis assistenciais.

Antes de realizar a atividade de autoavaliação a seguir, lembre-se de estudar os tópicos do Tema 1.2 no Caderno de Estudo, conforme indicado no tema anterior.
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Vamos realizar uma atividade de análise.
A região de Cachoeiras (fictícia) é composta por sete municípios e totaliza cerca de 1,9 milhões de habitantes. A região localiza-se em área metropolitana e possui várias áreas de favela e conjuntos habitacionais, especialmente nos municípios de Bandeiras, Carampeba e Rolimã, que são também atravessados por uma rodovia federal muito movimentada.
A população distribui-se entre os municípios da região como mostra a Tabela 1:
Os municípios de Salgueiro, Jabacoranga e Bota-Fora, além das menores populações, apresentam também as menores densidades demográficas da região.
Suponha que você faça parte da comissão de planejamento regional, que está trabalhando numa proposta de organização do subsistema de atenção às emergências. A primeira tarefa é propor a localização de serviços hospitalares de atenção ao trauma (principalmente acidentes de trânsito e violência).
Na medida em que os serviços de trauma, para serem resolutivos, necessitam de equipamentos de ponta e de recursos humanos especializados e raros, como você pensaria uma primeira aproximação a uma proposta de localização de serviços, considerando as características apresentadas anteriormente?
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Uma proposta mais aprofundada dependerá dos serviços e recursos existentes na região, mas, em linhas gerais, pode-se definir, numa primeira aproximação, que os serviços de trauma destinados a tratar os casos mais graves devem ser concentrados em Bandeiras e, eventualmente, também em Carampeba. Esses serviços seriam, possivelmente, a referência para toda a região para casos graves.
Para que esses serviços possam funcionar, os traumas de menor gravidade devem ser tratados nos municípios de menor porte – São Tomé e Salgueiro –, possivelmente servindo de referência para Jabacoranga e Bota-Fora, para casos menos graves.
Casos sem gravidade – luxações, pequenas suturas etc. – devem ser tratados em seus municípios de origem, seja em serviços ambulatoriais, policlínicas ou hospitais de pequeno porte, se estes últimos existirem.
Agora você pode avançar para o Tema 1.3. Articulação entre os níveis da rede, definição de perfis e regulação.
Para que seja possível configurar uma rede de serviços de saúde efetiva, é necessária, portanto, a existência de um conjunto de unidades de diferentes portes, níveis de complexidade e capacidade tecnológica, em número suficiente para garantir cobertura a uma determinada população e trabalhando com uma composição de recursos adequada em cada nível para garantir a resolubilidade e qualidade da atenção na provisão de cuidado.
No entanto, ainda que esta seja uma condição sine qua non para que uma rede exista, não é suficiente.
É necessário ainda que este conjunto de unidades trabalhe de forma articulada, responsabilizando-se pela atenção integral à população de sua região (ou distrito ou microrregião).
Tradicionalmente, quando se fala em montagem de redes de serviços de saúde, pensa-se em mecanismos de referência e contrarreferência, compreendidos como as formas pelas quais um paciente caminha ao longo da rede. No entanto, pela descrição do funcionamento dos serviços em redes estabelecidas, fica claro que esses mecanismos não são, em absoluto, meras fichas de encaminhamento ou de solicitação de exames que são distribuídas aos pacientes para que estes busquem resolver, por sua própria conta e risco, de que forma serão operacionalizados.
Mas, na realidade, os mecanismos de referência e contrarreferência só têm sentido, e funcionam como tal, na medida em que expressem o compromisso com o caminhar de seus pacientes, de modo a garantir o acesso ao conjunto de tecnologias necessárias para o cuidado do problema apresentado.
Expressam, portanto, uma definição e um acordo prévios quanto ao que cabe a cada unidade de saúde tratar e cuidar em termos de número e tipos de casos a serem atendidos, o que comumente é definido como o perfil assistencial.

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Para que uma rede opere, sem dúvida é necessária a definição do papel de cada um dos seus componentes, de modo que se possa construir “caminhos” pelos quais os usuários possam transitar ao longo da rede e com base nos quais são definidas as referências e contrarreferências. Ainda assim, países que desenvolveram sistemas em rede sentiram necessidade de aprimorar ou aperfeiçoar os mecanismos de integração entre os níveis, compartilhamento de informação e cooperação entre os profissionais.
Leia o texto a seguir, que foi traduzido de uma descrição do sistema de saúde sueco, disponível no site do Observatório Europeu de Políticas e Sistemas de Saúde, da Organização Mundial de Saúde.
“A maior parte dos pacientes que recebem alta dos hospitais tem necessidade de cuidado continuado a ser provido pela atenção primária. A informação concernente às necessidades de cuidado de um determinado paciente é, em alguns casos, formalmente passada do hospital para o centro de atenção primária da área onde mora o paciente. Em outros casos, o hospital faz contato diretamente com uma enfermeira do distrito.
Esta forma de lidar com pacientes com necessidade de cuidado ambulatorial, nem sempre tem se mostrado bem sucedida, já que nem sempre fica claro que tipo de cuidado cada profissional envolvido deve prover.
Um novo método para melhorar a cooperação entre atenção primária e hospitalar foi introduzido em algumas áreas. A cada mês, médicos da atenção primária passam uma proporção de sua carga horária nos diversos serviços do hospital, com o objetivo de compartilhar conhecimento e trocar informações acerca do trabalho realizado nos centros de saúde. Ao mesmo tempo, estes profissionais levam aos demais profissionais da atenção primária, as questões e problemas vividos nos serviços hospitalares.
Este tipo de programa, com o objetivo de melhorar a qualidade da atenção e a cooperação entre os profissionais, vem sendo desenvolvido localmente por generalistas e especialistas.”
Após a leitura, reflita sobre as seguintes questões:
Sugerimos que suas reflexões a respeito das questões propostas sejam registradas em um editor de texto, como o Word, para que não se percam no processo de continuidade do curso e de estudo de outras temáticas.
Agora você pode avançar para o Tema 1.4. Organização de linhas de cuidado.

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Para realizar esta atividade, você deverá, primeiro, ler o texto Parâmetros técnicos para a programação de ações de detecção precoce do câncer de mama, elaborado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca)/Ministério da Saúde. O texto também está disponível na Biblioteca do curso.
Para o desenvolvimento, em um dado território, da linha de cuidado do câncer de mama, em seu componente de detecção precoce descrito no texto, que serviços e recursos estariam envolvidos?
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Se tiver alguma dúvida, entre em contato com o Tutor a fim de obter mais esclarecimentos.
Caso contrário, continue seu estudo.
Agora você pode avançar para o Tema 1.5. Refletindo sobre os investimentos em redes de serviços.
A partir dos tópicos expostos neste tema, fica claro que formular projetos de investimento para a construção de redes de serviços pressupõe um processo bastante mais complexo, mas não necessariamente complicado, do que simplesmente propor a construção de um hospital ou qualquer outro serviço no distrito/município A ou B e para o qual são fundamentais doses maciças de bom senso.
Ao pensar num hospital, é necessário questionar:
As mesmas perguntas se colocam ao pensarmos a respeito da criação de serviços dentro de uma linha de cuidado, como um serviço de diagnóstico para o câncer, por exemplo:
E, uma vez identificados os casos, para onde serão encaminhados para o tratamento? Do ponto de vista da operação:

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Vamos realizar uma atividade de análise.
O município de Cassiopeia (fictício) elaborou uma proposta de investimentos em unidades ambulatoriais de saúde e a encaminhou para a avaliação de uma comissão da qual você faz parte. Cassiopeia é um município de 100 mil habitantes e a equipe responsável pela elaboração do projeto utilizou o parâmetro de duas consultas por habitante/ano para estimativa da necessidade de consultas ambulatoriais não especializadas. Para a apresentação das necessidades de investimentos, foi encaminhada a tabela abaixo:
Pela tabela, percebe-se que a proposta municipal considerou que, para dobrar a produção atual, seria necessário dobrar o número de unidades ambulatoriais existentes.
Durante a reunião da comissão de avaliação, qual seria sua opinião acerca do projeto? Se fosse o caso, que outras informações você solicitaria?
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
A premissa de que é necessário dobrar o número de unidades para dobrar a produção não é necessariamente verdadeira.
Seria necessário avaliar se as unidades existentes estão produzindo com todo o seu potencial, de acordo com os recursos físicos e humanos existentes.
Se as unidades existentes estiverem ociosas, o novo projeto de investimentos, ao não analisar a situação e não considerar as medidas gerenciais necessárias à otimização dos recursos existentes, tenderá a criar mais unidades ociosas.
Obs.: A avaliação da produtividade dos recursos será trabalhada em detalhes no próximo Módulo.
Agora você pode avançar para o Tema 1.6. Constituição de mecanismos de gestão de redes.
Como ficou claro pelo exposto nos temas anteriores, a montagem de redes resolutivas e que possam garantir atenção integral efetiva pressupõe bases populacionais maiores, para que possam ser desenhadas considerando os vários níveis de densidade tecnológica e complexidade necessários ao cuidado e atenção de uma população dada.
As regiões, naturalmente, são subdivididas em territórios menores, em geral denominados distritos, sub-regiões ou microrregiões, e que também mantêm autossuficiência de recursos para atenção à sua população até o nível definido.
Assim, microrregiões ou distritos menores serão responsáveis e autossuficientes para o primeiro nível, equipado para resolver os problemas mais comuns daquele território.
Já distritos mais populosos, com perfil epidemiológico distinto, serão autossuficientes para o primeiro nível, que naturalmente deverá ter tamanho e combinação de recursos diferentes de um distrito menor, provendo ainda, por exemplo, cuidado ambulatorial especializado, em hospital ou policlínicas para sua população.
Além disso, possivelmente será referência para esse nível de cuidado ambulatorial especializado de um ou mais distritos vizinhos, de menor porte.
Evidentemente, para que o distrito maior possa dar conta da referência de seus vizinhos de menor porte, deve ser considerada, em seu planejamento de serviços e recursos, a população a ser referenciada pelos demais.
Da mesma forma, os distritos menores devem considerar detalhadamente em seus planos as estimativas de casos que deverão ser encaminhados aos distritos de referência, definindo em que situação o serão e para que serviços.
E, naturalmente, os vários distritos devem não apenas tomar conhecimento a posteriori de como os gestores vizinhos (ou a população vizinha) pretendem utilizar sua rede, mas participar dessas definições antes que os pacientes se encaminhem por si mesmos para buscar a referência.
Assim, fica claro que o planejamento da rede regional não é a soma do planejamento de seus distritos, assim como não é construída apenas tomando-se o conjunto de atividades desenvolvidas pelas unidades existentes em sua área.
A instituição de uma rede regional é uma construção coletiva, a ser desenvolvida em conjunto desde o seu início, na medida em que a atenção à saúde da população da região não é responsabilidade apenas dos distritos, mas da região como um todo.
Ao transpormos esta necessidade de construção coletiva para o caso brasileiro, onde mais de 70% dos municípios brasileiros têm população menor que 20 mil habitantes, fica clara a complexidade da tarefa de construção de redes.
Com exceção de algumas regiões metropolitanas, é necessário um número muito grande de municípios para que se tenha base populacional suficiente para o planejamento de serviços de maior densidade tecnológica.
Ainda assim, a única forma de construção de redes é considerar o território da região como efetivamente comum e a responsabilidade pela saúde dessa população como coletiva.
Ou seja, para o planejamento e implementação de redes regionais, é fundamental que, inicialmente, as fronteiras intermunicipais sejam apagadas, que se elabore o plano de forma conjunta, com participação de todos os gestores dos diversos distritos e municípios da região.
Cumprida esta etapa, é hora de buscar os mecanismos de gestão que permitam operacionalizar o plano assim construído, incluindo os mecanismos de financiamento e de contratação de recursos humanos.
Se, ao contrário, partimos de mecanismos de financiamento que considerem cada município como uma unidade de planejamento e programação autônoma, será extremamente difícil superar a fragmentação e a multiplicidade de subsistemas existentes, o maior desafio a ser enfrentado para a construção de redes.
Depois, continue seus estudos no Tema 1.7, caso queira conhecer mais sobre o planejamento do SUS para a organização das redes de atenção.
Neste módulo foram apresentados os aspectos relacionados aos modelos de organização de serviços, os conceitos de região e níveis de complexidade/densidade tecnológica, organização de linhas de cuidados e os mecanismos de gestão de redes.
Todos esses conceitos e tipos de organização necessitam de um processo estruturado de planejamento para a definição de metas e objetivos, e monitoramento e avaliação.
Os instrumentos de planejamento do SUS (planos, relatórios) foram instituídos pela Lei n. 8.080/90, que atribuiu à direção nacional a responsabilidade de “elaborar o planejamento estratégico nacional em cooperação com os estados, municípios e o Distrito Federal” (BRASIL, 1990).
De acordo com esta lei, o processo de planejamento e orçamento deve ocorrer de maneira
"ascendente, do nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessidades da política de saúde com a disponibilidade de recursos em planos de saúde dos municípios, dos estados, do Distrito Federal e da União " (BRASIL, 1990).

Em 2006, com a implementação do Pacto pela Saúde, foi criado o Sistema de Planejamento do SUS (PlanejaSUS) (BRASIL, 2006).
A definição do PlanejaSUS pressupõe a atuação continuada, integrada, articulada e solidária das áreas de planejamento das três esferas de gestão do SUS (União, estados e municípios) (BRASIL, 2006).
Assim, cada esfera de gestão deve realizar o seu planejamento, de forma articulada, buscando fortalecer e consolidar os objetivos e diretrizes do SUS, considerando as peculiaridades, as necessidades e as realidades de saúde locorregionais.
Entre os pressupostos do planejamento no âmbito do SUS estão:
Planejamento como responsabilidade individual de cada um dos três entes federados, a ser desenvolvido de forma contínua, articulada e integrada.
Respeito aos resultados das pactuações entre os gestores nas Comissões Intergestores Regionais (CIR), Bipartite (CIB) e Tripartite (CIT).
Monitoramento, avaliação e integração da gestão do SUS.
Planejamento ascendente e integrado, do nível local até o federal, orientado por problemas e necessidades de saúde para a construção das diretrizes, objetivos e metas.
Compatibilização entre os instrumentos de planejamento da saúde (Plano de Saúde e respectivas Programações Anuais, Relatório de Gestão) e os instrumentos de planejamento e orçamento de governo – o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) –, em cada esfera de gestão.
Transparência e visibilidade da gestão da saúde, mediante incentivo à participação da comunidade.
Concepção do planejamento a partir das necessidades de saúde da população em cada região de saúde, para elaboração de forma integrada (BRASIL, 2013).

O Plano de Saúde (PS), a Programação Anual de Saúde (PAS) e o Relatório Anual de Gestão (RAG) são os elementos essenciais para a operacionalização do planejamento do SUS. E devem estar compatíveis, em cada esfera de gestão, com os PPA, com a LDO, e com a LOA, compondo um processo cíclico de planejamento para operacionalização integrada, solidária e sistêmica do SUS (BRASIL, 2013).
Vamos então detalhar um pouco mais cada um desses instrumentos:
O Plano de Saúde pode ser conceituado como o instrumento que, a partir da análise situacional, vai apresentar as intenções e os resultados a serem conquistados no período de quatro anos, expressos em objetivos, diretrizes e metas.
Para garantir o princípio da unicidade do SUS e a participação social, como requisito legal tem-se que o processo de formulação do Plano de Saúde deve ser participativo e ascendente. O cumprimento dessa determinação legal apresenta dificuldade em indicar um modelo único e aplicável que considere as peculiaridades e necessidades próprias de cada município, estado e região do país. Desse modo, o PS, como um instrumento referencial básico, precisa retratar essas realidades diversas.
Todas as áreas de atenção à saúde dos indivíduos, que permitam assegurar a integralidade do cuidado do cidadão e sua família, precisam estar contempladas no PS. O plano deve expressar as políticas e os compromissos de saúde de uma determinada esfera de gestão; é ele que vai nortear a elaboração do planejamento e orçamento do governo no tocante à saúde.
Cabe ressaltar que o PPA deve ser compatível com o Plano de Saúde em cada esfera de governo.
A elaboração do PS será orientada pelas necessidades de saúde da população e considerando:
Esses aspectos serão trabalhados detalhadamente no Módulo 2 desta unidade de aprendizagem.
Durante o processo de elaboração e discussão do Plano de Saúde, devem ser realizadas audiências públicas e incentivada a participação popular para assegurar a transparência e a visibilidade.
A Programação Anual de Saúde pode ser definida como o instrumento que operacionaliza as intenções expressas no Plano de Saúde. Na PAS, devem estar definidas as ações, as metas anuais e os recursos financeiros necessários para alcançar os objetivos, as diretrizes e as metas do Plano de Saúde.
A PAS pode ser compreendida como um processo estabelecido no âmbito do SUS, derivado da definição, negociação e formalização dos pactos entre gestores.
Apresentando um horizonte temporal que coincide com o período determinado para o exercício orçamentário, tem como bases legais para a sua concepção a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual.
O Relatório Anual de Gestão apresenta os resultados e ações alcançados com a execução da PAS e orienta eventuais redirecionamentos que se façam necessários. Os resultados encontrados são verificados com base no conjunto de indicadores definidos na programação para acompanhar o cumprimento das metas nela fixadas.
O relatório deve incluir na sua estrutura: as diretrizes, os objetivos e indicadores do Plano de Saúde; as metas da PAS previstas e executadas; a análise da execução orçamentária; e as recomendações necessárias, incluindo eventuais redirecionamentos do Plano de Saúde.
O RAG é a principal ferramenta para auxiliar o processo de monitoramento e avaliação da gestão e deve ser apreciado e aprovado pelo Conselho de Saúde.

O Plano de Saúde, a Programação Anual de Saúde e o Relatório Anual de Gestão, instrumentos básicos do PlanejaSUS, devem orientar o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual, de acordo com os períodos estabelecidos para sua formulação.
Cabe ressaltar que o último ano de vigência do PAS equivale ao primeiro ano do novo governo; assim, o processo de formulação deve começar logo no início do governo.
Os instrumentos básicos do planejamento do SUS estão integrados ao PPA, LDO e LOA e servem de base para o processo orçamentário nas três esferas de governo (União, estados e municípios).
Com o intuito de integrar as informações, e para facilitar o planejamento e o monitoramento das ações e serviços de saúde, o Ministério da Saúde instituiu, em 2019, o DigiSUS Gestor – Módulo Planejamento (DGMP), regulamentado pela Portaria GM/MS n. 750, de 29 de abril de 2019 (BRASIL, 2019).
O DigiSUS Gestor – Módulo Planejamento é um sistema de informação para estados e municípios desenvolvido a partir das normativas do planejamento do SUS e da internalização da lógica do ciclo de planejamento. Apresenta-se como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão dos(as) gestores(as) do SUS, por meio da disponibilização de informações acessíveis, qualificadas e georreferenciadas, além dos microdados da sua área geográfica, possibilitando maior autonomia na análise e na avaliação situacional de saúde (Brasil, 2021).
O DGMP agregou o Sistema de Apoio ao Relatório de Gestão (SargSUS) e o Sistema de Pactuação de Indicadores do Pacto pela Saúde (Sispacto). Isso significa que o sistema permite as funcionalidades de elaboração dos Relatórios Detalhados do Quadrimestre Anterior (RDQA) e do Relatório Anual de Gestão (RAG) e receberá o registro das metas da Pactuação Interfederativa de Indicadores e de um conteúdo mínimo dos planos de saúde e das programações anuais de saúde – para além de ser um repositório para todos os arquivos dos instrumentos de planejamento do SUS e resoluções correspondentes (BRASIL, 2021).
O DGMP apresenta os seguintes objetivos:
O registro dos dados relativos aos instrumentos de planejamento por parte dos estados, Distrito Federal e municípios passou a ser feito no DGMP, a partir de 2018 (BRASIL, 2021).
Para orientar os(as) gestores(as) e profissionais envolvidos com o planejamento a manusear o DGMP, o Ministério da Saúde disponibiliza o Manual do Usuário DigiSUS Gestor – Módulo Planejamento, o qual apresenta, de forma detalhada, o passo a passo para a inserção das informações nesse sistema.

Para saber mais, consulte os textos disponíveis na biblioteca do curso:
Com isso, finalizamos o Módulo 1. Agora você já pode avançar para o Módulo 2. Planejamento em saúde.