Este módulo se propõe a apresentar alguns indicadores demográficos e epidemiológicos utilizados na caracterização das condições de vida e saúde das populações. Procura, também, identificar os principais modelos epidemiológicos propostos para explicar os determinantes do processo saúde-doença na segunda metade do século XX.
Neste módulo, você irá compreender as principais transformações na organização socioespacial do Brasil e suas implicações nas condições de vida e saúde e na produção das situações atuais de vulnerabilidade socioambiental. Também irá identificar os procedimentos utilizados para obter os dados e indicadores dos sistemas de informação em saúde, visando a conhecer as principais características epidemiológicas das populações de diferentes unidades territoriais.
Este módulo está organizado em dois temas principais:
Para auxiliar nos estudos, além do texto principal, das questões de fixação de aprendizagem e dos quadros e tabelas referentes aos indicadores de saúde para o Brasil, você contará com um texto de apoio extraído do documento original Concepções de saúde e doença, de Paulo Chagastelles Sabroza.
Para continuar seus estudos, siga para o Tema 3.1. Indicadores e modelos epidemiológicos, condições de vida e saúde.
Como vimos no Módulo 1 desta unidade, os processos saúde-doença-cuidado são categorias complexas e multidimensionais e, portanto, impõem, para a sua operacionalização, a identificação de uma multiplicidade de informações quantitativas e qualitativas, que nos permitam analisá-las a partir de muitas perspectivas.
Nos níveis das sociedades e dos grupos sociais, estas informações geralmente são consolidadas por meio de indicadores que possibilitam comparações entre períodos, unidades territoriais e grupos demográficos e sociais, permitindo, ainda, a definição de padrões epidemiológicos e a avaliação dos resultados das ações de saúde.
A tomada de decisões ou a programação de ações de saúde exigem a compreensão real e objetiva sobre determinada situação sanitária. Para isto, é essencial que as informações sejam baseadas em dados confiáveis. Assim, os indicadores de saúde buscam quantificar e avaliar as informações produzidas com tal finalidade.
Segundo a Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa):
"em termos gerais, os indicadores são medidas-síntese que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde. Vistos em conjunto, devem refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde. " (REDEINTERAGENCIAL DE INFORMAÇÃO PARA A SAÚDE, 2008, p.13).
Desta maneira, os indicadores expressam numericamente o estado de saúde da população, em um determinado momento.
Os tipos de valores numéricos expressos pelo indicador são:
É o resultado da contagem de um determinado evento. Expressa a frequência com que esse evento ocorre. Por exemplo: o número de nascidos vivos em uma determinada localidade. Não são utilizados para avaliar o nível de saúde, pois não levam em conta o tamanho da população, mas podem ser usados do ponto de vista gerencial para programar as necessidades de saúde, como as consultas de pediatria.
Relação entre dois valores, não necessariamente da mesma unidade. O numerador e o denominador são elementos de mesma natureza e mesma dimensão, mas são de grupos excludentes, ou seja, o numerador não está incluído no denominador. A razão mede relação entre eventos. Por exemplo: número de médicos/1.000 habitantes.
Relação entre dois valores de forma que o numerador é sempre um subconjunto do denominador, duas frequências de uma mesma unidade. É obtida por uma divisão que deve ser expressa em porcentagem. Por exemplo: proporção de óbitos de pessoas com 50 anos ou mais.
Representa o risco de um determinado evento ocorrer na população. É uma relação entre dois números, o número de eventos reais e os que poderiam acontecer, obtida por divisão. Sempre calculado para um período de tempo especificado e uma área delimitada. Por exemplo: coeficiente de mortalidade infantil.
Deve-se tomar cuidado para não comparar coeficientes que tenham bases diferentes, isto é, número de pessoas expostas ao risco.


Embora frequentemente usados como sinônimos, os termos indicadores e índices referem-se a tipos distintos de medidas.
Para conhecer melhor um exemplo de índice, acesse a página do Programa das Nações Unidas, O que é o IDH.
Em diferentes períodos históricos, os indicadores apresentados pelos serviços públicos, de modo sistemático, foram selecionados a partir do que socialmente era definido como problema de saúde relevante, considerando-se, ainda, os limites estabelecidos pela disponibilidade de dados e as possibilidades técnicas de processamento e análise.
Assim, durante a primeira metade do século XX, foram priorizadas as informações sobre casos e mortes por doenças infecciosas com grande potencial de produzir epidemias nos principais centros urbanos.
Na segunda metade do século passado, no período da consolidação do capitalismo de estado no Brasil, quando a saúde era considerada um recurso estratégico para o desenvolvimento socioeconômico, os indicadores considerados mais importantes foram algumas estatísticas de mortalidade, capazes de expressar os impactos das políticas públicas e do processo acelerado de urbanização na reprodução ampliada da força de trabalho: o coeficiente de mortalidade infantil, a mortalidade proporcional por doenças transmissíveis e indicadores de morbidade para doenças específicas definidas como problemas de saúde prioritários, por sua magnitude ou potencial epidêmico nos grandes centros urbanos: malária, tuberculose, hanseníase, esquistossomose, varíola, poliomielite e meningites menigocócicas.
Nesse período ocorreu a transição epidemiológica nas populações das capitais brasileiras, com importantes mudanças nas principais causas de morte, como pode ser observado no Gráfico 1.

Sugerimos a leitura dos textos Concepções de saúde e doença (SABROZA, 2004) e A Saúde no Brasil em 2030: diretrizes para a prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro (FIOCRUZ, 2012), especialmente das páginas 86 a 88, com os gráficos da pirâmide etária, esperança de vida ao nascer e taxa de fecundidade. Os textos também estão disponíveis na Biblioteca do curso.
Nas últimas décadas, como se pode ver no Gráfico 2 e no Gráfico 3, melhoraram os indicadores tradicionais de saúde do país como um todo: a mortalidade geral, a mortalidade infantil e a natalidade.
Acresce-se a isso o declínio da fecundidade brasileira na última década (IBGE), conforme o Gráfico 4, como um aspecto importante sobre a nova configuração da família brasileira, que acompanha esse padrão.
A redução da mortalidade ocorreu em todas as grandes regiões do país, como mostram os indicadores de expectativa de vida estimados por unidades federadas, mas o modelo de desenvolvimento econômico-social também consolidou as desigualdades históricas entre as unidades e regiões do país, como mostra a Figura 2, que apresenta a distribuição territorial da expectativa de vida ao nascer no Brasil, por unidade federada, em cinco anos diferentes.
A expectativa de vida ao nascer é um indicador complexo, que procura sintetizar a probabilidade de morrer nas diferentes faixas etárias, e é muito utilizado para se comparar populações com características demográficas distintas.

Para auxiliar a análise dos dados sobre esperança de vida ao nascer, indicamos acessar a plataforma Atlas Brasil.
As análises dos indicadores de saúde permitem que sejam identificadas situações particulares que necessitam de atenção diferenciada, tanto dos gestores como de outros atores sociais.
No SUS – Sistema Único de Saúde do Brasil –, o Sistema de Informação em Saúde é um componente fundamental, que tem como um dos principais objetivos a viabilização das análises de condições de vida e saúde nos diferentes níveis de organização socioterritorial: nacional, estadual, municipal e local, procurando contemplar as diferentes dimensões de questões assim complexas.
Estas diferentes dimensões permitem que reconheçamos componentes distintos das condições de vida e saúde. Se considerarmos a dimensão da mortalidade (Gráfico 5) teremos uma visão bem diferente daquela decorrente da análise das principais causas de internação (Tabela 1).
Se estivéssemos observando indicadores da atenção básica, de incapacidade no trabalho ou de sofrimento, teríamos ainda outras visões distintas.
Uma preocupação recente, acompanhando o processo de descentralização das ações de saúde, foi assegurar informações sistemáticas e atualizadas sobre as condições de vida e saúde ao nível dos municípios.
Nesse nível, além da desigualdade regional característica do modelo histórico de desenvolvimento brasileiro, pode-se observar, na Figura 3, que mostra as distribuições territoriais de alguns agravos sob a forma de mapas temáticos, que existem grandes diferenças entre os municípios dentro de cada uma das grandes regiões, refletindo as particularidades das condições de vida e seus determinantes socioambientais.
Já a Figura 4 utiliza o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHm), um indicador sintético elaborado a partir de indicadores de três dimensões da vida humana (a longevidade, a educação e a renda) para comparar as condições de vida entre municípios no Brasil.
Esse indicador é uma adaptação da proposta de Amartya Sen (2000), que destacou a necessidade de se procurar indicadores que pudessem monitorar o processo de desenvolvimento na perspectiva da qualidade de vida com liberdade.


Para compreender um pouco mais sobre indicadores de saúde, sugerimos a leitura do livro Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações (REDE, 2008). Este material é destinado a orientar a utilização dos Indicadores e Dados Básicos para a Saúde – IDB.
Leia também o texto Informação e diagnóstico de situação: processo saúde-doença e a produção social da saúde. Ambos os textos estão disponíveis na Biblioteca do curso.
Neste tema foram apresentados alguns indicadores para a análise das condições de vida e saúde da população e também como eles são construídos. Mas onde é possível encontrar esses indicadores? Quais são as fontes confiáveis a ponto de expressar uma real situação de saúde?
Vamos estudar essas e outras questões no Tema 3.2, que irá apresentar os principais sistemas de informação de saúde no Brasil.
No tema anterior, buscamos demonstrar que a qualidade de um indicador está intrinsecamente relacionada com a qualidade da programação das ações de saúde. Agora, precisamos acrescentar que a qualidade do indicador depende, entre outros fatores, da precisão dos sistemas de informação utilizados, seja no registro, na coleta ou na transmissão dos dados.
O Sistema Nacional de Informações em Saúde do SUS tem como um de seus fundamentos a natureza pública, garantido o acesso sem restrições às diversas informações, desde que respeitados os cuidados relativos ao sigilo referente aos dados individuais.
Sua arquitetura hierarquizada, consolidando informações adequadas para cada nível de organização e sua natureza estratégica, procura assegurar aos gestores e outros atores sociais o acesso às informações indispensáveis ao planejamento, à avaliação e ao controle público, nos diferentes níveis de governo.
Para isto, não basta que os dados estejam disponíveis. As informações precisam ser apresentadas de modo compreensível e de fácil acesso, por meio de indicadores consolidados, além de permitirem, também, sempre que necessário, o acesso aos dados primários.

Neste estudo, utilizaremos algumas bases de informação do DATASUS, do Ministério da Saúde do Brasil, com o propósito de obtermos indicadores para algumas unidades federadas e capitais, agregados em quatro grandes blocos, que refletem diferentes dimensões do processo saúde-doença-cuidado:
Vale lembrar que outros tipos de indicadores também auxiliam no reconhecimento objetivo da situação sanitária de determinada localidade, como, por exemplo, os indicadores de recursos, de cobertura, de fatores de risco e educacionais, entre outros.

Para saber um pouco mais, acesse o site do Projeto Avaliação do Desempenho do Sistema Saúde (Proadess), onde você poderá observar a extensa matriz de indicadores de monitoramento do sistema de saúde brasileiro.
É necessário ressaltar a importância dos sistemas de informação, não apenas do setor saúde, mas também de outros setores, visto que permitem o acesso a informações demográficas, socioeconômicas, de produção industrial, sobre o meio ambiente, sobre acidentes de trânsito, entre outros que, por serem confiáveis, são válidos e relevantes para mensurar um determinado evento. Desta forma, destacamos abaixo alguns sistemas de informação de base nacional do setor saúde e de outros setores importantes para a gestão dos sistemas de saúde.
Na figura que segue você encontra os principais sistemas de informação de base nacional do setor saúde. Ao clicar sobre a sigla de cada sistema é possível obter mais detalhes:
Sistema de informações Ambulatoriais
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
Classificação Estatística Internacional de Doenças 10
Sistema de Cadastramento de Usuários do SUS
Gerenciador de Ambiente Laboratórial
Sistema de Acompanhamento da Gestante
Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos
Sistema de Informação da Atenção Básica
Sistema de Informação do câncer do colo do útero
Sistema de Informações do câncer de mama
Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações
Sistema Nacional de Agravos de Notificação
Sistema de Informações de Mortalidade
Sistema de Informações de Nascidos Vivos
Sistema de Gerenciamento Financeiro
Sistema de Gestão de Informações Financeiras do SUS
Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde
e-SUS Hospitalar
Sistema de Comunicação de Informação Hospitalar e Ambulatorial
Sistema de Gerenciamento e Produção de Bancos de Leite Humano
Sistema de Gerenciamento em Serviços de Hemoterapia
Sistema de Informações Hospitalares Descentralizado
Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde
Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Influenza
Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Malária
Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Doenças Diarreicas Agudas
Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano
Sistema de Informação de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado
Sistema de Informações Ambientais
Sistema de Informações de Vigilância Alimentar Nutricional
Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade
e-SUS-SAMU
Relação de Doadores Não Aparentados de Medula Óssea
Sistema do Programa Nacional de Avaliação de Serviços de Saúde
Sistema de Centrais de Regulação
Classificação Estatística Internacional de Doenças 10
Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológico
Registro Hospitalar de Câncer
Sistema de Informação do Câncer
Sistema de Registro de Câncer de Base Populacional
Sistema de Informações de Beneficiários
Sistema Nacional de Informação em Vigilância Sanitária

Algumas informações de interesse para as vigilâncias em saúde, quer sejam de interesse comum para todos os componentes ou específicas para componentes isolados das vigilâncias em saúde, são produzidas em outros setores.
Encontram-se no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) inúmeras pesquisas de interesse da saúde tais como:
No site da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), registram-se os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais por meio da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), de muita importância para a vigilância da saúde do trabalhador.
Se os indicadores forem gerados em um sistema de informação confiável, de fácil utilização, eles serão instrumentos valiosos para a avaliação da situação de saúde, contribuindo para que especialmente gerentes, gestores e os que atuam no controle social do sistema possam identificar a população com maiores necessidades de cuidado.
Espera-se que os indicadores possam ser analisados e interpretados com facilidade, e que sejam compreensíveis pelos usuários da informação, especialmente gerentes, gestores e os que atuam no controle social do sistema de saúde.
Como vimos, há uma enorme variedade de sistemas de informação, mas persiste o desafio de melhor aproveitar as informações para gestão do SUS. Segundo a Ripsa (2018, p. 14), “a expansão da produção e do acesso aos dados não se faz acompanhar pelo desenvolvimento qualitativo dos sistemas de informação, enquanto faltam análises orientadas para subsidiar decisões de política”. Assim, é necessário melhorar a qualidade das informações, a articulação entre as instituições e sistemas e a utilização de forma efetiva dos profissionais capacitados.
As tabelas abaixo exibem dados e indicadores selecionados por nós, autores, e obtidos nos Indicadores e Dados Básicos (IDB). Observe as tabelas, tentando identificar as diferenças e/ou similaridades no padrão do processo saúde-doença-cuidado apresentado pelas regiões.