O ponto de partida para uma boa gestão de recursos e operações é entender que as organizações de saúde são sistemas produtivos, cujos produtos (que embora costumam ser considerados “serviços”, em geral implicam combinações de bens e serviços) têm valor e impacto econômico e social. Como em qualquer serviço, seu foco deve ser a prestação de serviços individuais ou coletivos às pessoas.
Lamentavelmente, no Brasil, a maioria dos serviços de saúde ainda leva pouco em conta a perspectiva da gestão de operações ao organizar a oferta de serviços. Há uma tendência em se trabalhar com planejamentos abstratos, utilizando a lógica de gerências de recursos estanques e dissociadas das gerências assistenciais, com pouca atenção ao desenho das operações.
Com isso, toda a logística da oferta de serviços de saúde fica prejudicada.
E essa dificuldade não é um “privilégio” do sistema público...
Este módulo está organizado em seis temas:
Para continuar seus estudos, siga para o Tema 1.1. Atividades e funções de atenção à saúde.
Uma atividade é um conjunto de operações realizadas de modo contínuo e permanente, visando a operacionalidade e manutenção da organização e de sua produção.
Uma atividade ocorre pela combinação de:
Atividades envolvem um processo de transformação, constituído por inputs (entradas), que sofrem um processo de transformação, resultando em produtos ou serviços que são os outputs (saídas).

Um agregado de atividades de natureza semelhante compõe uma função. Veja a figura abaixo:

Na classificação de funções de atenção à saúde, do arcabouço proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para elaboração das Contas Nacionais de Saúde, a OMS reconhece as funções abaixo como sendo de atenção à saúde. Clique em cada item para saber mais:
Exemplos de atividades nesse grupo incluiriam as atividades curativas nas várias especialidades realizadas em hospitais, ambulatórios, urgência ou emergência, emergência pré-hospitalar e atenção curativa em hospitais-dia e UTIs.
Exemplos de atividades nesse grupo seriam o atendimento de reabilitação para doenças crônicas, idosos, saúde mental, e outros, realizados em diversos ambientes.
Esses serviços têm crescido bastante no mundo em função do envelhecimento da população. As atividades incluiriam, por exemplo, cuidados de enfermagem realizados em lares para idosos, estabelecimentos para cuidados prolongados e lares para deficientes físicos e mentais.
Abrangeriam os conhecidos “Serviços de Apoio Diagnóstico e Terapêutico” – exames de laboratório, imagem, endoscopias, entre outros – e serviços de transporte médico.
Inclui serviços de farmácias, públicas e privadas, na venda de medicamentos e de outros produtos médicos, e lojas de venda de dispositivos terapêuticos – como lentes oculares, muletas, óculos, cadeiras de rodas e aparelhos auditivos, por exemplo.
Inclui vacinação, serviços de saúde materno-infantil, controle de vetores, vigilância epidemiológica, ações de promoção da saúde, entre outros.
Inclui a regulação da oferta de serviços, gerenciamento de serviços de saúde, organização de programas de saúde pública e administração de planos de saúde, por exemplo.
Os modelos de atenção constituem combinações de mecanismos de regulação e financiamento com diferentes participações dessas várias funções de atenção à saúde, o que gera diferentes portfólios de oferta de serviços.
Nos países da Comunidade Europeia, por exemplo, a função de serviços de enfermagem de longa duração é bastante desenvolvida e acompanhada pelo sistema de saúde, enquanto no Brasil há poucos registros sobre ela.
Nos países da África, há pouquíssima oferta de serviços auxiliares de atenção, enquanto nos Estados Unidos eles respondem por 15 a 20% dos gastos do país com saúde.

Vamos encerrar o estudo deste tema com uma atividade de análise.
Suponha um asilo para pessoas idosas que receba principalmente clientes com incapacidades físicas ou psíquicas e ofereça vacinas para gripe, acompanhamento médico regular e de intercorrências médicas e atividades de lazer. Esse asilo está exercendo atividades típicas de quais funções de saúde?
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Se tiver alguma dúvida, entre em contato com o tutor a fim de obter mais esclarecimentos.
Agora, você pode avançar para o Tema 1.2. Produção, fatores de produção e processos produtivos em saúde.
Na linguagem econômica, produção é a “atividade social que visa adaptar a natureza para a criação de bens e serviços que permitam a satisfação das necessidades humanas.” (GREMAUD; TONETO JR.; VASCONCELLOS, 2007, p.32).
Portanto, tanto bens quanto serviços podem ser genericamente denominados produtos. Toda a produção está assentada em uma estrutura produtiva, em geral com regulamentação definida por lei, e é sustentada por “fatores de produção” e “processos produtivos”.
Vejamos cada um desses conceitos.
Fatores de produção são os recursos demandados para a produção de bens e serviços.
Os economistas costumam categorizar os fatores de produção em três grandes áreas: terra, capital e trabalho.
Por analogia e nos afastando um pouco do rigor conceitual dos economistas, poderíamos didaticamente considerar que, nas atividades de atenção à saúde, esses fatores incluem:

Vamos fazer um exercício de comparação.
Compare os fatores de produção exigidos na indústria farmacêutica com aqueles exigidos na oferta de consultas médicas.
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Você deve ter identificado e descrito o primeiro caso como um processo de produção com lógica de manufatura, e o segundo como um processo de produção com lógica de serviço, que tem o paciente como produto (pense na participação do cliente em um atendimento de fisioterapia, por exemplo).
Se tiver alguma dúvida, entre em contato com o tutor a fim de obter mais esclarecimentos.
As atividades de produção de bens e serviços de saúde podem ser caracterizadas por seus processos de produção.
Os processos de produção abrangem as formas de organização do trabalho e os vários graus de incorporação tecnológica.
Os processos de produção desenvolvidos por uma indústria podem ser organizados de formas distintas, conforme veremos a seguir.
Os processos de produção podem ser classificados em dois tipos. Clique em cada tipo de processo para saber mais:
Em economia, “indústria” é sinônimo de um conjunto de empresas ou organizações que atuam em um mesmo setor produtivo. Embora isso possa soar um pouco estranho, qualquer setor de serviços poderia ser considerado uma indústria. Por exemplo, a indústria de serviços médicos ou de serviços de limpeza.
São processos similares à manufatura, onde os bens físicos predominam sobre os produtos “intangíveis” e difíceis de definir, característicos dos serviços.
Há pouco contato com o cliente.
Prevalece a lógica de redução de custos pelo emprego de tecnologia, produção em massa, automação e especialização. A divisão do trabalho é realizada no sentido de reduzir ou eliminar o fator humano, sempre suscetível a erros.
Processos de manufatura são característicos da produção de medicamentos e outros insumos médico-hospitalares, mas também se aproximam dos processos empregados em alguns segmentos especializados da atenção à saúde, como a fase analítica do processamento de exames diagnósticos de análises clínicas de laboratório, cada vez mais executada em estruturas do tipo “plantas de processamento”.
O desempenho da organização está inexoravelmente ligado às necessidades e expectativas do cliente. O fator humano (cliente e empregado/profissional), a tecnologia, a produtividade e a qualidade precisam ser equilibrados.
Predomina a orientação para processos e os empregados/profissionais são considerados um recurso organizacional.
Processos que têm o cliente como participante: Verifica-se um grau elevado de envolvimento do cliente. Bens físicos podem ou não ser parte significativa do serviço, e os serviços podem ser personalizados ou padronizados. Exemplos: vendas em uma loja de departamentos, consulta médica etc.
Processos que têm o paciente como produto: O serviço é realizado no próprio cliente. Bens físicos podem – ou não – fazer parte do produto final, e os serviços são personalizados. Exemplos: serviços de cabeleireiro, procedimentos cirúrgicos etc.

Vamos fazer outro exercício de comparação.
Compare os processos de produção da indústria de equipamentos médicos com os de uma consulta em fisioterapia.
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Você deve ter identificado e descrito o primeiro caso como um processo de produção com lógica de manufatura, e o segundo como um processo de produção com lógica de serviço, que tem o paciente como produto (pense na participação do cliente em um atendimento de fisioterapia, por exemplo).
Se tiver alguma dúvida, entre em contato com o tutor a fim de obter mais esclarecimentos.
Com isso encerramos o estudo deste tema. Agora, você pode avançar para o Tema 1.3. Bases organizacionais das operações em sistemas e serviços de saúde.
A análise das organizações de saúde como sistemas produtivos permite entrever uma distinção entre dois grupos de atividades. Clique em cada grupo para saber mais:
Este grupo fica a cargo das gerências assistenciais, cujo objetivo é o gerenciamento do cuidado, ou seja, a coordenação e execução das ações dos profissionais durante um procedimento ou intervenção, que envolve conhecimento específico dos profissionais de saúde; estas atividades compreendem a definição de tecnologias empregadas e um know-how profissional de cuidados.
Este grupo fica a cargo das gerências de recursos e gerências de operações.
As gerências de recursos, habitualmente denominadas gerências administrativas, são responsáveis por garantir a disponibilidade de todos os fatores de produção, ou seja, dos recursos financeiros, humanos, materiais, de informações e a manutenção da infraestrutura. Uma gerência de recursos competente precisa ter familiaridade com as indústrias componentes, o mercado de trabalho e aspectos ligados ao financiamento e regulamentação do setor de saúde, além de uma atuação muito afinada com as gerências de operações e assistenciais.
As gerências de operações, por sua vez, são responsáveis por garantir o estabelecimento de arranjos articulados desses recursos com as atividades de cuidado ou atenção. Assim, as operações de um serviço pressupõem a organização do processo produtivo, de tal forma que o cliente tenha acesso ao serviço que buscou, ou do qual necessita, e que esse serviço seja oferecido com a melhor qualidade possível.
Compreende um know-how operacional, que pressupõe familiaridade com os processos de produção de serviços, e um trabalho integrado com as gerências assistenciais e de recursos.
Tanto as gerências de recursos quanto as de operações precisam dominar conhecimentos externos à área da saúde, e esses conhecimentos precisam ser adequados ao contexto do desenvolvimento das atividades de saúde.
Em resumo, do ponto de vista gerencial, a produção das atividades de prestação de serviços, nas organizações de saúde, poderia ser representada da seguinte forma:
Entretanto, o que geralmente encontramos nas organizações de saúde resume-se a uma direção médico-assistencial, que coordena as chamadas “atividades finalísticas”, e uma direção administrativa, que coordena os recursos organizacionais, nas chamadas “atividades logísticas”, de forma isolada e estanque das atividades de cuidado.
O fato de, historicamente, não haver uma efetiva integração entre os dois setores dificulta muito o estabelecimento de uma gerência de fato logística ou de operações nas organizações de saúde.
Além disso, a maior visibilidade do processo de cuidado para os profissionais de saúde, que habitualmente são os gestores de organizações de saúde no Brasil, faz com que o processo logístico seja frequentemente negligenciado, e tenha um baixo nível de profissionalização.
Os organogramas que separam as gerências assistenciais das administrativas reforçam ainda mais o tradicional afastamento das duas áreas.
Muito bem. Com isso concluímos o estudo deste tema. Agora você pode avançar para o Tema 1.4. Conceitos introdutórios em gerências de operações.
Em geral, nos serviços de saúde, é mais fácil para o cliente avaliar a qualidade das operações de serviço do que a qualidade do cuidado.
Por exemplo, um paciente internado para submeter-se a uma colecistectomia, em geral não tem conhecimento, tempo, oportunidade ou condições de avaliar a qualidade da colecistectomia (ou do cuidado), e fica sem saber se a cirurgia correu 38% bem ou 98% bem.
Mas o cliente e a família conseguem perfeitamente avaliar a qualidade das operações de serviços, que incluiria o tempo que o cliente levou esperando fora do centro cirúrgico, a facilidade ou dificuldade para virem colher seus exames pré-operatórios, a presteza da equipe de saúde ou a velocidade dos processos de internação e alta.
Cirurgia para a retirada de vesícula.
Normalmente, a qualidade do cuidado é denominada pelos profissionais de saúde de qualidade clínica, e depende:
A qualidade das operações de serviços é muito pouco pesquisada na literatura de saúde, e depende da competência para executar atividades logísticas.
Entretanto, pode ter impactos significativos sobre a qualidade do cuidado.
Por mais que seja inegável que a qualidade do cuidado precisa ser o ponto de partida da avaliação da qualidade, falhas na qualidade das operações de serviço, além de serem imediatamente percebidas pelo cliente, podem comprometer a excelência da qualidade do cuidado, e ter grande impacto nos custos de uma organização.

Os produtos ou serviços oferecidos por uma organização de saúde podem ser avaliados em pelo menos dois planos:
A qualidade do cuidado é intrínseca ao produto (seja ele uma consulta ou uma cirurgia) ofertado ao cliente, sendo, fundamentalmente, uma responsabilidade das pessoas ligadas ao processo de cuidado ou atenção (gerências assistenciais).
A qualidade das operações de serviço corresponde à forma como esse produto é apresentado ou administrado, e é determinada principalmente pelas atividades do núcleo logístico (gerências de recursos e operações).
Veja esse exemplo:

Um paciente permanece por duas horas na porta do centro cirúrgico, esperando ser levado à sala de cirurgia, porque a mesma ainda não foi limpa; em função do estresse acarretado pela espera, apresenta um pico hipertensivo. Portanto, a qualidade clínica de seu atendimento foi comprometida por uma falha no processo logístico. A cirurgia então é suspensa.
Pense nos prováveis desdobramentos desse aparente “detalhe”, que corresponde a uma falha de operações...
O adiamento da cirurgia pode piorar o prognóstico do paciente, o que é um desdobramento que compromete ainda mais a qualidade clínica do atendimento. Pode também fazer com que ele fique internado mais tempo do que o necessário, pois será preciso encaixá-lo novamente no Mapa Cirúrgico.
Pense no que isso implica: danos à saúde e à vida pessoal do paciente, despesas provocadas pelo aumento do tempo de internação (alguém paga por elas) e custos de manter a equipe cirúrgica ociosa por esse tempo.
Poderíamos considerá-los, também, “detalhes”?
É desses e outros “detalhes” que se ocupa a gerência de operações.
A gerência de operações é a responsável por supervisionar todo o conjunto de “grandes” e “pequenas” operações que viabilizam as atividades produtivas de uma organização.
Ao contrário de algumas funções da gestão (como o planejamento e a avaliação, por exemplo), as tarefas das gerências de operações e recursos são basicamente definidas pelos desafios imediatos gerados pela necessidade de prestar os serviços de saúde, ou seja, de fazer acontecer.
Em sentido amplo, operação está para serviços assim como fabricação está para bens manufaturados.
O movimento da Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management – TQM) instituiu a ideia de que as operações devem perseguir os objetivos de melhorar os serviços, com qualidade, variedade e capacidade de resposta, simultaneamente reduzindo os custos.
Por isso, todos os níveis e segmentos de gerência passam, cada vez mais, a considerar que podem aprender com as ideias da gerência de operações.

Assim, a gerência de operações ocupa-se da melhor forma de organizar as atividades produtivas, e de garantir que essas atividades sejam desempenhadas sem interrupções não programadas.
As operações podem ser contínuas ou pontuais:
Neste caso tendem a ser chamadas de “atividades”. Na saúde pública, às vezes assumem a forma de “Programas”.
Exemplos:
Muitas vezes estão associadas às “Campanhas” efetuadas pela Saúde Pública.
Exemplos:
É preciso não esquecer que as operações podem e devem ser concebidas e organizadas de formas diferentes.
Operações de atendimento ambulatorial executadas em hospitais, Estratégia Saúde da Família ou em escolas têm clientelas, portes, motivações e requisitos de recursos e processos bastante diferentes para serem desenvolvidas. O mesmo vale para operações de atendimento cirúrgico quando realizadas em um grande hospital ou em uma unidade móvel rural.

Como há diferentes formas de organizar as operações, é muito difícil estabelecer parâmetros universais para os recursos necessários às operações dos serviços de saúde como, por exemplo, o número ideal de leitos para uma determinada população ou quantas ambulâncias um sistema de saúde deveria ter. Isso tudo depende da forma como cada um organiza suas operações...
Como uma organização tende a executar várias operações de portes diferentes, cabe selecionar as operações prioritárias e concentrar a atenção nelas para obter os maiores resultados no desempenho global.
Entretanto, sempre há uma considerável imbricação entre as várias operações da organização. Às vezes, um pequeno processo, comum a várias operações “prioritárias”, pode ser a chave para mudanças operacionais importantes.

Um hospital, cuja principal missão é realizar cirurgias, terá, com certeza, um ambulatório, um laboratório, um setor de nutrição, e muitos outros setores, todos realizando suas operações. Mas as operações e os principais processos do hospital serão aqueles vinculados à realização das cirurgias.

Melhorar o tempo de entrega dos resultados de exames de laboratório pode ter impactos importantes na operação de UTI, enfermarias, ambulatórios, e no centro cirúrgico.

Vamos fazer uma atividade de observação e análise.
Atividades semelhantes de atenção à saúde podem ser executadas mediante desenhos de operações distintos. Descreva dois desenhos possíveis para operações de dispensação de medicamentos a clientes ambulatoriais de serviços de saúde (esta é, provavelmente, uma das funções da atenção à saúde com a maior variação de desenho de operações).
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Esperamos que você tenha descrito, em linhas gerais, duas das seguintes formas de estruturar operações de dispensação de medicamentos ambulatoriais:
Distribuição na própria unidade de saúde; aquisição subsidiada nas farmácias “populares”, onde o governo paga parte dos medicamentos à farmácia; aquisição subsidiada em farmácias particulares credenciadas pelo governo; entrega domiciliar de medicamentos a pacientes inscritos em programas de saúde; tíquete medicamento em que o paciente recebe tíquetes que podem ser trocados por medicamentos em farmácias etc.
Se você tiver pensado em alguma alternativa diferente, discuta-a com seu tutor.
Não se esqueça de que estamos falando em dispensação ambulatorial de medicamentos. A administração a pacientes internados em hospitais, ou sendo atendidos no pronto-socorro, não está incluída nessa função.
Se estiver tudo certo, continue os seus estudos.
O ponto de partida para a definição das atividades e, consequentemente, das operações realizadas por uma organização de saúde, seja ela Secretaria Estadual de Saúde ou uma clínica privada, são as macrodiretrizes definidas no planejamento estratégico da organização ou nos planos de negócios das empresas, a partir de feedbacks epidemiológicos e/ou de mercado.
Uma vez que o planejamento estratégico defina:
Podem ser desenhadas as operações para cumprir essas metas da forma mais “custo-efetiva” possível.
Vejamos o papel desempenhado, nesse processo, pelas gerências de operações e pelas gerências de recursos.
As gerências de operações são responsáveis pelo desenho, pela implantação e pelo acompanhamento das operações.
As questões básicas às quais as gerências de operações da organização precisam dar resposta são em que local, quando e de que maneira ofertar os produtos apontados pelo planejamento.
As questões básicas às quais as gerências de recursos precisam dar resposta são: que recursos (humanos, materiais, financeiros) são necessários para produzir esses produtos, e como mobilizar esses recursos?
E, finalmente, a questão básica à qual as gerências assistenciais, de recursos e de operações precisam dar uma resposta conjunta é: esse é o melhor desenho para a operação?
A boa execução das operações de uma organização de saúde envolve o funcionamento integrado e eficiente, em seu conjunto, das várias gerências que controlam os recursos e operações das gerências assistenciais.
A competência de apenas uma ou duas das gerências de recursos e a boa organização interna de seus processos são insuficientes para garantir um bom resultado operacional global.
Todas precisam estar funcionando bem e de maneira muito articulada.

Vamos fazer uma atividade de observação e análise.
Com base nas perguntas do roteiro fornecido neste tema para desenhar operações, relacione as questões básicas de Planejamento Estratégico para uma Campanha de Vacinação contra a Poliomielite, na qual se espera que cerca de 15 mil crianças sejam vacinadas.
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
A pergunta já fornece as respostas para as questões básicas do planejamento estratégico e, portanto, esperamos que você imagine respostas plausíveis para as perguntas típicas da gerência de operações e de recursos.
Onde: os locais em que você instalará postos de atendimento e o volume de crianças a ser atendido em cada um, além de critérios para escolher os locais.
Quando: as datas, os dias da semana e os horários, além dos critérios que você utilizou em sua escolha.
Como: estruturação dos processos, desde a divulgação da campanha até sistemas de organização das filas, registro de informações, etapas programadas para o atendimento das crianças.
Recursos humanos: quantas pessoas e qual a formação do pessoal mobilizado? Há previsão de participação de voluntários? Como irei mobilizar minhas equipes para o evento? Há necessidade de treinamento?
Materiais e outros insumos: de quantas doses de vacina necessito?
Quantidade e tipo de outros insumos: seringas, agulhas, algodão, outros, logística de transporte, organização e fluxo das informações.
Financeiro: tenho disponibilidade financeira para financiar as ações necessárias para o sucesso da campanha? Qual o cronograma de desembolso? Que fontes de recursos serão usadas?
Essa é, de fato, a melhor maneira de estruturar a operação do ponto de vista do custo, da eficiência (relação entre custos e resultados) e da efetividade (relação entre objetivo proposto e resultado obtido)?
Se restar alguma dúvida, por favor entre em contato com o tutor a fim de obter mais esclarecimentos. Caso contrário, continue seu estudo.
Em qualquer operação, os processos de trabalho são executados em sequências que impõem a disponibilidade de:
O mapeamento dos processos é a viga mestra da gerência de operações. Basicamente, mostra “de que maneira” uma operação está sendo executada.
Para mapear processos, utilizam-se diversas ferramentas, como: Fluxograma (Figura 1), Diagramas em espinha de peixe (Figura 2) etc.
Os fluxogramas para operações de serviço, em geral, mapeiam os processos-alvo identificando o fluxo de pessoas (clientes e profissionais), materiais, recursos financeiros e informações, gargalos e oportunidades de melhoria das várias etapas do processo.
Mesmo que não se domine ferramentas específicas, o simples exercício de relacionar e analisar as etapas de uma operação pode ajudar no raciocínio.
Vejamos, por exemplo, as operações de um laboratório de análises clínicas, com seus processos integrantes:
Cada uma dessas etapas (ou processos) merece uma reflexão crítica sobre como está sendo ou irá ser desenvolvida.
Operações, portanto, têm vários níveis de detalhamento, desde os níveis macro em que são relacionados e definidos os recursos físicos que elas demandam, até os níveis micro, que mobilizam fundamentalmente conhecimentos sobre como se desenvolvem os processos operacionais, e uma reflexão sobre como poderiam funcionar melhor.

Mesmo alterações no nível micro, que não implicam agregar novos recursos, podem ter um enorme impacto.
Veja o seguinte exemplo:
O sistema de atendimento em fila única, inicialmente desenvolvido pelos bancos, é uma “operação de atendimento ao cliente” que foi um verdadeiro “ovo de Colombo”, e envolveu apenas um redesenho do fluxo de atendimento da clientela.
Antigamente, você entrava numa agência bancária e escolhia um guichê para ser atendido, dentre os tantos disponíveis. Lembra-se como era desagradável descobrir que alguém que chegou meia hora depois de você, mas escolheu uma fila que andou mais rápido e já foi atendido, enquanto você continuava “mofando” na fila do seu guichê?
Em operações de serviços, os “detalhes” tendem a ser essenciais.
Mais importante do que a existência formalizada de gerências de operações (o que pode corresponder apenas a “criar mais uma caixinha” no organograma com a função de pensar e redesenhar isoladamente as operações) é a incorporação de uma mentalidade de operações pelas gerências assistenciais e administrativas, que viabilize um trabalho conjunto com foco nos processos produtivos.
Decisões sobre operações, principalmente quando se tratar de uma situação de falha ou redesenho operacional, precisam ser discutidas coletivamente, com o máximo de participantes do processo operacional ou, no mínimo, com componentes críticos ou estratégicos desse processo.

Sem a participação da equipe, perde-se a oportunidade de conhecer melhor as condições e os detalhes das operações e de identificar pontos frágeis da operação, que precisam ser repensados e pontos fortes, que já estão implantados e podem ser reforçados.

Em alguns casos, são mudanças tão difíceis como reaprender a andar.
É pouco realista imaginar que basta elaborar um protocolo e divulgá-lo, carimbando-o com um “cumpra-se” e tudo se resolverá. As pessoas que participam das operações precisam ser constantemente motivadas a participar e a se considerarem “donas do processo”, para que se fomente uma “cultura organizacional” de atenção aos processos operacionais.

Vamos fazer mais uma atividade de aplicação prática.
Descreva as atividades de um serviço de nutrição hospitalar e identifique os processos componentes. Comece a descrição pela visita da nutricionista ao cliente internado e termine com a entrega da refeição no quarto.
Digite suas ideias no espaço a seguir e, quando terminar, clique no botão Salvar. Depois, veja se você considerou, em sua resposta, os pontos destacados nos comentários.
Você pode ter pensado nos processos operacionais de uma forma mais ou menos detalhada, e priorizado processos diferentes.
Esperamos, minimamente, que você tenha incluído:
Se você ainda tiver dúvidas, por favor entre em contato com o tutor a fim de obter mais esclarecimentos. Caso contrário, continue seu estudo.
Encerramos aqui o estudo deste tema. Agora, você pode avançar para o Tema 1.5. Gerenciamento da capacidade instalada.
Gerências de Operações trabalham para fazer com que a organização inteira funcione como um “sistema produtivo”, onde as atividades estão explicitamente inter-relacionadas, e são responsáveis:
Vamos discutir mais a fundo, neste tema, o gerenciamento da capacidade instalada.
É muito comum vermos hospitais descrevendo sua capacidade instalada como o número dos diversos tipos de leito de que dispõe.
O SARAH, de Brasília, refere uma capacidade instalada de 427 leitos em sua home page (fev. 2019):
O Hospital Dr. José Frota, de Fortaleza/CE, possui a seguinte capacidade instalada (2018):
Entretanto, a capacidade instalada corresponde, na verdade, a todo o potencial de produção de determinada organização, levando-se em conta suas instalações físicas e equipamentos.
Isto quer dizer que abrange todos os recursos fixos da organização destinados a viabilizar a produção (e, por isso, não inclui recursos humanos e estoques de materiais).
Portanto, importa conhecer não apenas leitos, mas salas de cirurgias, consultórios e equipamentos de todos os tipos.
Um gerenciamento adequado da capacidade instalada, em uma organização prestadora de serviços de saúde, pressupõe compatibilidade ideal entre recursos humanos, estoques de materiais e capacidade instalada, conforme mostram a figura e o quadro abaixo:

O gerenciamento da capacidade instalada de uma organização é uma das muitas atribuições conjuntas das gerências de recursos e das gerências de operações.
Abaixo, listamos alguns exemplos de problemas de gerenciamento de capacidade muito comuns nas organizações de saúde. Clique em cada item para saber mais:
A manutenção de qualquer espaço ou instalação tem um custo fixo significativo, ainda que o mesmo não seja utilizado. São despesas com segurança, limpeza, manutenção, luz, gás, entre outras, que buscam evitar que o patrimônio se deteriore.
É enorme o número de instalações de saúde subutilizadas ou, mesmo, abandonadas, principalmente no sistema público de saúde.
Hospitais inteiros são construídos sem se pensar que, como regra geral, o custo de construção equivale ao custeio anual de operação de um hospital. Ou seja, manter em funcionamento um hospital construído a um custo de 10 milhões de reais implica, em geral, desembolsar uma quantia bem próxima de 10 milhões de reais a título de custeio anual para o funcionamento do mesmo.
Cada vez mais, portanto, a tendência é racionalizar o uso de instalações físicas e dos tempos de ocupação desses espaços nas ações de saúde, com o recurso a estratégias como hospital-dia, atenção domiciliar e cirurgia ambulatorial.
Desequilíbrios quantitativos entre os diversos profissionais, equipamentos e materiais.
Suponhamos o caso de uma clínica em Sorocaba-SP, por exemplo, que tenha um equipamento de ultrassom que poderia funcionar 12 horas por dia.
Apesar de haver uma demanda reprimida que poderia justificar a oferta do exame por mais um turno de quatro horas, funciona apenas quatro horas, porque só foi contratado um profissional com carga horária de quatro horas diárias.
Podemos dizer que há uma possível folga operacional em termos de equipamento, e um gargalo ocasionado por uma insuficiência de profissionais habilitados para operá-lo.
É o caso de leitos distribuídos entre departamentos e serviços de especialidade em função do “prestígio” do chefe de serviço, e não de acordo com a demanda dos pacientes. Assim, por exemplo, os leitos da enfermaria de oftalmologia podem ter baixíssimas taxas de ocupação, com vários leitos desocupados, enquanto faltam leitos de internação na cardiologia.
Portanto, temos uma folga operacional na oftalmologia, que contrasta com o gargalo da clínica médica.
Um exemplo seria a ociosidade do centro cirúrgico em detrimento de longas filas de espera para cirurgias (gargalo). O caso da cirurgia cancelada, que vimos em tema anterior, é um exemplo clássico.
A ociosidade das salas de cirurgia pode ser provocada por:
Com isso, deixa-se de fazer bom uso de um recurso essencial.
O gerenciamento da capacidade instalada compreende não apenas a compatibilidade dos recursos entre si e destes com a demanda, mas, também, definições sobre operações realizadas na própria organização ou fora dela (terceirizadas), e um gerenciamento adequado das filas.

Vamos encerrar o estudo deste tema com uma atividade de análise.
Associe os problemas de gerenciamento de capacidade com as imagens ao lado. Clique na descrição do problema e, em seguida, escolha a imagem que corresponde a ele. Caso sua seleção não esteja correta, um X indicará que a opção não é válida e você tem a chance de tentar novamente, até fazer acertar a correspondência dos pares.
Com isso encerramos o estudo deste tema. Agora, você pode avançar para o Tema 1.6. Gerenciamento de filas e esperas.
O gerenciamento das filas é, sem dúvida, um dos maiores desafios enfrentados por sistemas de saúde, principalmente os públicos.
As filas vêm sendo motivo de duras críticas da população inglesa a seu tradicional sistema de saúde e, no Brasil, a situação é ainda pior, pois, em geral, nem sabemos o tamanho de nossas filas.

Em uma pesquisa realizada no Brasil, pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde, em 2002, os três principais problemas do SUS apontados pela população foram:
Temos aí a medida da importância do problema.
Vejamos, agora, como algumas ideias da engenharia de produção podem ajudar a melhorar o gerenciamento das filas.
O caso do centro cirúrgico, discutido no Tema 1.4, desta unidade, ilustra um problema de gerenciamento de fila. O problema é acarretado pelo fato de o cliente ter que aguardar um tempo muito acima do necessário ou ideal para chegar à sala de cirurgia, ou seja, por uma falha nas operações do atendimento cirúrgico. Em função dessa falha, toda a “fila” de cirurgias ficou prejudicada, andando mais devagar do que deveria, e a capacidade instalada ficou temporariamente ociosa.
Em situações de recursos escassos, a atenção ao gerenciamento das filas torna-se ainda mais fundamental.

Um paciente permanece por duas horas na porta do centro cirúrgico, esperando ser levado à sala de cirurgia, porque a mesma ainda não foi limpa; em função do estresse acarretado pela espera, apresenta um pico hipertensivo. Portanto, a qualidade clínica de seu atendimento foi comprometida por uma falha no processo logístico. A cirurgia então é suspensa.
Pense nos prováveis desdobramentos desse aparente “detalhe”, que corresponde a uma falha de operações...
O adiamento da cirurgia pode piorar o prognóstico do paciente, o que é um desdobramento que compromete ainda mais a qualidade clínica do atendimento. Pode também fazer com que ele fique internado mais tempo do que o necessário, pois será preciso encaixá-lo novamente no Mapa Cirúrgico.
Pense no que isso pode implicar danos à saúde e à vida pessoal do paciente, as despesas provocadas pelo aumento do tempo de internação (alguém paga por elas...) e os custos de manter a equipe cirúrgica ociosa por esse tempo.
Poderíamos considerá-los, também, “detalhes”?
Assim, é importante propor estratégias para organizar os fluxos da clientela, otimizando o “processamento” das filas.
Um gerenciamento eficiente de filas no setor de saúde é um poderoso instrumento de garantia de continuidade do cuidado, pois ajuda a racionalizar fluxos e encaminhamentos ao longo de todo o sistema de saúde, diminuindo os fenômenos da " porta rotatória” e a ociosidade da capacidade instalada.
Clientes que voltam, continuamente, aos serviços, sem conseguirem resolver seus problemas de saúde.

No Brasil, entre as operações organizadas e estruturadas para permitir o adequado gerenciamento das filas estão incluídas muitas das chamadas “experiências inovadoras do SUS”, entre elas as operações:
As experiências de porta de entrada e de saída foram, em sua maioria, englobadas nos projetos mais amplos de Humanização do atendimento, que têm como um de seus objetivos reduzir as filas e o tempo de espera, com ampliação do acesso e atendimento acolhedor e resolutivo, baseado em critérios de risco.

Se você pesquisar na internet (ou em outros veículos de comunicação) informações sobre essas iniciativas, perceberá que todas elas são iniciativas de organização dos fluxos da clientela (ou seja, de gerenciamento de filas, na linguagem de operações de serviços), que pressupõem alguma ou todas as etapas indicadas abaixo.
Definição de prioridades de atendimento – estabelecer essas prioridades e detectá-las nas filas é uma necessidade evidente nas emergências, por exemplo.
Desenho de operações de marcação de consultas, cirurgias e outros procedimentos para evitar congestionamentos de pacientes – sistemas de consulta com hora marcada, organização do atendimento por senhas, entre outros.
Operações de gerenciamento de esperas.
Pactuação prévia de encaminhamento de pacientes de nível mais básico para uma unidade de nível mais especializado.
Pactuação do encaminhamento de um nível de atenção mais complexo para acompanhamento em um nível mais básico, definindo fluxos para encaminhamento do paciente na rede de saúde.
A base para a necessidade de operações de gerenciamento de filas é o fato de a demanda por serviços de saúde não ser uniforme e, muitas vezes, ser superior à oferta na área de saúde.
Com isso, surge a necessidade de:
Vamos ver um exemplo de fora da área de saúde.
As operações de gerenciamento de filas desenhadas pelo Metrô do Rio de Janeiro para o show dos Rolling Stones, em fevereiro de 2006, são um exemplo interessante. O show foi programado para as 22 horas de um sábado, e o acesso a Copacabana para automóveis foi fechado a partir das 18 horas. Com isso, o metrô transformou-se na principal opção de acesso ao local. A expectativa, posteriormente confirmada, era de que mais de um milhão de pessoas fossem assistir à apresentação.
O metrô, habitualmente, não trabalha com “agendamento” de horários.
No entanto, antecipando um padrão de demanda onde sua capacidade instalada poderia ser insuficiente caso a demanda não fosse dividida em vários horários, com um consequente congestionamento de passageiros, a administração do Metrô decidiu desenvolver ações para tornar a demanda mais uniforme. Para uniformizar o fluxo de passageiros, os tíquetes para viagem, na noite do show, só eram vendidos antecipadamente, divididos em seis faixas de horário (18-19h, 19-20h, 20- 21h, 21- 22h, 22-23h e 23-24h).
Na verdade esse foi um engenhoso mecanismo de “agendamento” de horários de viagem. O sucesso dessa estratégia de operação fez com que, a partir daí, ela fosse adotada em todos os grandes eventos realizados na cidade, como carnaval, réveillons e até na visita do Papa Francisco em 2013.

Pense no seguinte:
Você consegue imaginar alguma situação em serviços de saúde, na qual uma estratégia semelhante à adotada pelo Metrô do Rio poderia ser adequada?
O que você acha? Pense um pouco nisso antes de prosseguir. Recomendamos que você registre as suas ideias a esse respeito e salve de uma maneira que possa consultá-las posteriormente.
Quando terminar, volte a esta página e continue seu estudo.
Um outro exemplo bastante interessante e criativo de gerenciamento de filas é o das filas para doação de sangue, que se encontra relatado a seguir, no exemplo “Gerenciamento de filas no Hemorio”.
No gerenciamento desse tipo de fila, reduzir os tempos de espera pode ser ainda mais fundamental do que no caso da marcação de uma consulta ou exame de rotina.
As organizações de saúde precisam dos doadores, que voluntariamente disponibilizam seu tempo para realizar uma ação de solidariedade. Neste caso, a disposição do doador para esperar pode ser menor do que a de um cliente que deseja marcar uma consulta.
Portanto, as estratégias de gerenciamento das filas também precisam considerar as características da clientela, em aspectos que vão da gravidade da doença à disposição para esperar.
O Hemorio é o centro responsável pela coleta da maior parte do sangue utilizado em hemotransfusões realizadas na rede pública da cidade do Rio de Janeiro, além de coordenar toda a hemorrede do estado.
Há alguns anos, a coleta do Hemorio funcionava apenas de segunda a sexta em horário comercial. Observava-se que o afluxo de doadores no turno da manhã era excessivo e à tarde, bastante reduzido, ou seja, havia picos impressionantes de atendimento de doadores pela manhã, e uma grande ociosidade da capacidade instalada de coleta à tarde. Mesmo o reforço da equipe no turno da manhã, na tentativa de reduzir o gargalo no atendimento dos doadores, teve pouco impacto.
Descobriu-se, então, que a maioria dos doadores achava que precisava estar em jejum para doar sangue, crença derivada do jejum necessário para realizar exames de sangue, e que vários deles prefeririam doar sangue no final de semana, para não terem que faltar ao trabalho. Todos chegavam cedo para tentar ser atendidos logo.
As estratégias adotadas para gerenciar a fila, no caso, foram a criação de horários de doação de sangue nos finais de semana e a inclusão, em todas as campanhas de doação, de um aviso de que, para doar sangue, a pessoa não precisa estar em jejum.
O gerenciamento das filas comporta operações fortemente calcadas na comunicação, seja com o cliente, para organizar os fluxos da clientela dentro da organização, ou entre as várias organizações componentes da rede de serviços de saúde, para viabilizar uma boa dinâmica de referências e contrarreferências.
Além disso, envolve também operações de gerenciamento das esperas pois, quando a demanda não é uniforme ou a capacidade instalada é insuficiente, há períodos em que a formação de filas pode ser quase inevitável.
No gerenciamento das esperas, precisam ser tomadas medidas para identificar clientes com quadros agudos e potencialmente urgentes, que terão prioridade no atendimento, além de medidas que visem transformar a espera em algo menos desagradável ou até útil para o cliente.
Nesse sentido, é necessário dar atenção ao ambiente de atendimento, que deve ser o mais confortável e tranquilizador possível. Televisões com volume baixo ou desligado nas salas de espera são um recurso muito usado. Uma alternativa, por exemplo, é programar atividades de educação em saúde para esses períodos de espera, utilizando-se de forma positiva esse tempo em atividades de promoção da saúde.
Com a ajuda das gerências assistenciais, o gerenciamento das filas pode ganhar muito em qualidade.
Também é importante desenvolver operações de gerenciamento para filas de espera “virtuais” que se formam fora das organizações de saúde, como, por exemplo, filas de cirurgias, de transplantes ou de qualquer outro tipo de atendimento escasso.
Nesses casos, a transparência dos critérios de risco que justifiquem considerar um paciente como credenciado a atendimento prioritário, e a clareza das informações sobre o andamento da fila, costumam ser as melhores soluções.

Veja, abaixo, dados sobre a espera para transplantes de órgãos no Brasil:
Os setores habitualmente encarregados das operações de gerenciamento de filas incluem:



Um problema clássico de gerenciamento das filas e de muito impacto quando os recursos são escassos, como na saúde, são os “furos” de “agendamento”, para os quais é preciso elaborar estratégias.
O fato de deixar de utilizar a capacidade instalada implica desperdício de recursos caros, que ficarão ociosos, e esperas desnecessárias por parte dos clientes.
Veja, a seguir, um exemplo da dimensão que esse problema pode tomar em um sistema de saúde.
A lista de espera por atendimento médico, em Bauru, tem 20.178 mil nomes. A fila por ortopedia, por exemplo, não anda praticamente há seis meses. Um único especialista da área atende a todos os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de Bauru, no Ambulatório de Especialidades da Direção Regional de Saúde (DIR-10). Se ele entrasse em férias hoje, os 16 atendimentos diários seriam interrompidos.
Ao todo, 20% dos pacientes faltam à consulta marcada com os especialistas. O percentual chamou a atenção do promotor de Justiça, Cidadania e Defesa do Patrimônio Público, para quem uma campanha deve diminuir o índice de ausentes.
“A gente faz um apelo à população: que não falte ou ligue para avisar a falta. A pessoa não vai e depois volta para a fila”, explica. O promotor compreende as dificuldades a que estão submetidos os usuários, como, por exemplo, falta de recursos até para pegar um ônibus, mas reitera a necessidade de se comunicar a ausência. Ele também aproveitou o encontro de ontem para reivindicar que, no imóvel onde será instalada a Central de Vagas (órgão que concentrará a demanda por consultas especializadas e encaminhará os casos conforme a oferta e a gravidade do paciente), os usuários recebam atendimento adequado, enquanto o cartão do SUS é confeccionado.
Fonte: Adaptado de Luciana La Fortezza, Jornal da Cidade de Bauru (2006).

Praticamente não há literatura nacional sobre operações em serviços de saúde, na forma discutida neste módulo.
Entretanto, muitos conceitos e ferramentas da Gestão da Qualidade Total podem ajudar a avançar nesse caminho. Sugerimos o livro de Roberto Passos Nogueira, Perspectivas da Qualidade em Saúde, da Qualitymark Editora, Rio de Janeiro, 1994.
Para refletir mais um pouco sobre a dicotomia entre gerências assistenciais e administrativas, vale a pena ler também os artigos de Luís Carlos de Oliveira Cecílio, em especial A modernização gerencial dos hospitais públicos: o difícil exercício da mudança (1997), na Revista de Administração Pública 31(3): 36-47.
Se você quiser saber um pouco mais sobre o problema das filas, leia o texto elaborado por Alexandre Marinho, do IPEA: Um estudo sobre filas para internações e para transplantes no Sistema Único de Saúde brasileiro.