Tópicos Módulo 4

Introdução

Este módulo tem como objetivos apresentar e discutir:

Além disso, com foco na gestão do sangue para pacientes e nos métodos para redução do consumo de sangue (PBM), discutiremos princípios voltados para o uso racional do sangue e de hemocomponentes, bem como o uso de métodos de autotransfusão.

Fotos: Vinicius Marinho.

A transfusão de sangue e hemocomponentes é uma tecnologia relevante na terapêutica moderna. Usada de forma adequada em condições de agravo da saúde, pode salvar vidas. Porém, a transfusão não é um procedimento isento de risco. A equipe médica deve sempre considerar o risco inerente ao procedimento transfusional e os benefícios para os pacientes em uso de hemocomponentes.

Fotos: Vinicius Marinho e Raul Santana.

A utilização de sangue e hemocomponentes deve estar baseada em avaliação e/ou informações clínicas dos pacientes, bem como em resultados laboratoriais. O uso da medicina fundamentada em evidência é preconizado, porém sabemos que existe uma grande carência desse tipo de avalição na medicina transfusional. Esse é um dos motivos por que grande parte das recomendações apresentadas neste módulo está pautada na opinião de especialistas ou em trabalhos científicos de baixo nível de evidência.

Uso racional de hemocomponentes e Patient blood management (PBM)

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Esperamos que, utilizando os conhecimentos e as competências adquiridos por sua participação neste módulo, você possa colaborar com o aperfeiçoamento do uso racional do sangue e de hemocomponentes em uma unidade hospitalar, por meio de ações educacionais, avaliações da prática hemoterápica da equipe médica (métodos de auditoria) e da discussão de casos clínicos relacionados ao uso de sangue e hemocomponentes.

O infográfico abaixo retrata o processo de produção de hemocomponentes. Clique em cada uma das bolsas para acessar mais informações sobre uso e indicações.

Produção de hemocomponentes

Tópicos Módulo 4

Sangue total (ST)

O ST usualmente é processado em hemocomponentes. Uma forma alternativa de obtenção é a reconstituição utilizando CH e PFC. Suas indicações incluem: produção de hemocomponentes, perda aguda de sangue acima de 25% da volemia com hipovolemia e diminuição da capacidade de transporte de oxigênio por redução da massa eritrocitária e reposição na exsanguineotransfusão em recém-nascido (sem vantagem comprovada sobre uso de ST reconstituído).

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações de ST.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Concentrado de hemácias (CH)

Obtido do ST após fracionamento ou por aférese, suas indicações incluem:

  1. Hb ≤ 5,0 g/dL com anemia crônica e sem sinais de hipóxia tecidual
  2. Hb ≤ 7,0 g/dL com anemia aguda e sem sinais de hipóxia tecidual
  3. Hb ≤ 8,0-9,0 g/dL em pacientes portadores de aterosclerose cardiovascular com ou sem angina, portadores de doença pulmonar crônica ou aguda, com pO2 art inferior a 80 mmHg e pacientes com quadros de isquemia tecidual aguda ou consumo aumentado de O₂
  4. Hb ≤ 10,0 g/dL em pacientes no PO imediato de revascularização miocárdica ou IAM recente e hemorragias agudas com perdas volêmicas superiores a 25-30%.

A tolerância à anemia depende da condição clínica do paciente e de suas comorbidades. Assim, além da avaliação laboratorial, a indicação da transfusão de CH pressupõe avaliação clínica individual do paciente.

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações, critérios de transfusão e dose de CH.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Concentrado de plaquetas (CP)

Obtido por centrifugação do ST ou por aférese de doador único. As indicações incluem:

  1. Plaquetopenias por falência medular por tempo indeterminado na presença de sangramentos relevantes ou antes de procedimentos com risco hemorrágico.
  2. Plaquetopenias por falência medular transitórias se plaquetas abaixo de 10.000/µL na ausência de fatores de risco para sangramento ou abaixo de 20.000/µL com manifestações hemorrágicas ou fatores associados a maior risco de sangramento.
  3. Plaquetopenias por destruição periférica ou por alterações congênitas de função plaquetária somente na vigência de sangramentos graves.

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações, fatores de risco e níveis plaquetários sugeridos para procedimentos.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Concentrado de granulócitos (CG)

Obtido por aférese, suas indicações incluem:

  1. Neutropenia abaixo de 500/µL, com recuperação provável, mas não para os próximos 5-7d, e infecção bacteriana ou fúngica documentada não responsiva a antibiótico adequado.
  2. . Episódios infecciosos bacterianos/fúngicos com risco à vida em portadores de doença granulomatosa crônica.
  3. Forte suspeita de sepse bacteriana ou fúngica em recém-nascido com neutrófilos abaixo de 3.000/µL e estoque medular diminuído de precursores neutrofílicos.

É aceitável como medida profilática 1ª ou 2ª na fase neutropênica do TMO alogênico e da indução do tratamento da LMA.

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações e dose de CG.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Plasma fresco congelado (PFC)

Obtido por centrifugação do ST ou por aférese. Suas indicações incluem:

  1. Correção de deficiência congênita ou adquirida de fatores com RNI e/ou R > 1,5-1,8:
    a) doença hepática (com sangramento significativo ou de SNC ou pré-procedimento invasivo e/ou cirúrgico);
    b) durante tratamento com antagonistas da vitamina K (com sangramento significativo ou SNC ou pré-procedimento invasivo e/ou cirúrgico);
    c) CIVD aguda com sangramento;
    d) sangramento difuso em transfusão maciça;
    e) deficiência de fator de coagulação isolado.
  2. Reposição em aférese terapêutica em microangiopatias trombóticas.
  3. Reconstituição de ST para exsanguineotransfusão de recém-nascido.
  4. Tratamento do angioedema hereditário na ausência de inibidores de C1-esterase.

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações, dose e uso não justificado de PFC.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Crioprecipitado (CRIO)

Obtido do PFC após descongelamento e recongelamento. Suas indicações incluem:

  1. na reposição de fibrinogênio em hipo ou afibrinogenemia, congênita ou adquirida, ou defeitos qualitativos do fibrinogênio;
  2. na transfusão maciça;
  3. na deficiência de FXIII;
  4. na reversão da terapia trombolítica.

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações, dose e uso não justificado do CRIO.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Albumina humana

Obtida do plasma humano, por meio de fracionamento industrial. Suas indicações incluem:

  1. reposição volêmica refratária a cristaloide;
  2. paracenteses volumosas;
  3. peritonite espontânea;
  4. queimaduras graves ou extensas;
  5. reposição intraoperatória em cirurgias cardíacas;
  6. síndrome nefrótica refratária;
  7. reposição volêmica em plasmaférese terapêutica;
  8. pancreatite necrotizante grave;
  9. diarreias volumosas em pacientes hipoalbuminêmicos sob nutrição enteral e não responsivos à suplementação com peptídeos de cadeia curta.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Concentrado de hemácias modificado

Concentrado de hemácias lavadas – Obtido por meio da lavagem do CH com solução salina, a fim de se retirar as proteínas plasmáticas. Indicado para prevenção de reações transfusionais alérgicas.

Concentrado de hemácias desleucocitado - Concentrado de hemácias do qual foram retirados os leucócitos por meio de filtros leucorredutores ou que foi obtido já leucorreduzido por meio de procedimento de aférese. Indicado para:

Concentrado de hemácias irradiado - Concentrado de hemácias submetido a irradiação para inativar e reduzir os linfócitos T viáveis a um número que previna sua enxertia e proliferação em receptores de risco para doença do enxerto contra hospedeiro pós-transfusional (DECH-PT).

Assista ao vídeo para conhecer mais sobre indicações de CHL, de CH desleucocitadas e CH irradiadas.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Tópicos Módulo 4

Patient blood management (PBM)

Conhecendo as propriedade e as indicações dos hemocomponentes, podemos nos ater aos princípios e métodos disponíveis para otimizar o cuidado dos pacientes que podem necessitar de transfusão. Clique e assista aos vídeos abaixo.

Neste vídeo, será apresentada a definição de Patient blood management (PBM) – gestão de sangue para pacientes – e algumas ações para reduzir transfusões em pacientes não cirúrgicos, bem como medidas para realizar o preparo pré-cirúrgico de pacientes e para minimizar a perda sanguínea, além de recuperar as perdas hemorrágicas no intra e no pós-operatório.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Neste vídeo, serão apresentados os métodos de transfusão autóloga dos tipos pré-depósito, recuperação intraoperatória e hemodiluição normovolêmica.

Fonte: Vídeo produzido por Luis Henrique Rímel e Hugo Saponi Caldato, Hemocentro de Ribeirão Preto.

Para conhecer mais a respeito do PBM, acesse o material complementar.

Patient blood management bundles to facilitate implementation

Para aprofundar seus estudos, acesse os materiais complementares:

Guia_para o uso_de hemocomponentes

A randomized controlled trial comparing standard- and low-dose strategies for transfusion of platelets (SToP) to patients with thrombocytopenia

Tópicos Módulo 4

Atividade 4 - Fórum de discussão

1

Período de realização

Atividade individual

Fórum de discussão

Para desenvolver esta atividade, leia atentamente o estudo de caso abaixo e acesse o material complementar:

Estudo de caso – Atividade 4 (Parte 1)

Paciente do sexo masculino, branco, 60 anos, com antecedente de coronariopatia isquêmica, admitido na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) com quadro clínico de febre há dois dias, acompanhado de cefaleia, mialgia e dor retro-orbitária. Refere também astenia, anorexia, náuseas e vômitos há um dia. Informava também ocorrência de casos semelhantes em sua vizinhança.

Ao exame físico, estava em bom estado geral, febril (39º C), PA: 120/80 mmHg, FC: 88 bpm, desidratado e apresentava exantema maculopapular em face, tronco e membros.

Foram colhidos hemograma e pesquisa do antígeno NS1 com os seguintes resultados:

  • Hb: 14,5 g/dL;
  • Ht: 45%;
  • leucócitos: 4000/µL;
  • plaquetas: 160.000/ µL
  • antígeno NS1: reagente

Paciente foi orientado a manter repouso, hidratação oral abundante e retornar em 48 horas para reavaliação, ou antes, se necessário. Foi prescrita dipirona em caso de febre.

O paciente retornou à UPA no dia seguinte, referindo piora da astenia, tontura e dor abdominal, acompanhadas de vômitos persistentes e referia gengivorragia espontânea.

Ao exame físico, mostrava-se prostrado, febril (39,5ºC), PA: 90/50 mmHg, FC: 120 bpm, com petéquias em todo o membro inferior. Seu hemograma revelava:

  • Hb: 14,0 g/dL;
  • Ht: 50%;
  • leucócitos: 3600/µL;
  • plaquetas: 45.000/µL;
  • albumina sérica: 3,1 g/dL;
  • coagulograma:TP/RNI: 1,4 (valor normal <1,2) e TTPa/R: 1,1 (valor normal <1,25).

O paciente foi internado e foi iniciada reposição volêmica imediata.

Discussão 1: Discutir a indicação de transfusão de hemocomponentes neste momento.

Dengue diagnóstico e manejo clínico - adulto e criança

Estudo de caso – Atividade 4 (Parte 2)

Apesar da hidratação vigorosa, o paciente evoluiu com oligúria (<1,5 mL/Kg/h), hipotensão arterial (70/50 mmHg) e taquicardia. Vinte e quatro horas após a internação, apresentou enterorragia, hematêmese e agravamento da hipotensão.

Nesse momento, os exames laboratoriais mostravam:

  • Hb: 7,0 g/dL;
  • Ht: 21%;
  • plaquetas: 8.000/µL;
  • coagulograma: TP/RNI: 2,8 (valor normal <1,2) e TTPa/R: 1,9 (valor normal <1,25);
  • fibrinogênio: 70 mg/dL.

Discussão 2: Discutir a indicação de transfusão de hemocomponentes neste momento.

Evolução: O paciente evolui com melhora do sangramento gastrintestinal, estabilização hemodinâmica e recuperação completa após cinco dias de tratamento intensivo.

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Atividade 5 - Envio de arquivo

1

Período de realização

Atividade individual

Envio de arquivo

Ao longo deste módulo, vários aspectos foram tratados sobre o uso racional de hemocomponentes e PBM (Patient blood management). Agora é importante refletirmos e relacionarmos o conteúdo com a prática do responsável técnico na AT. Para tanto, elaboramos um estudo de caso relacionado ao tema. A partir dele, você desenvolverá um arquivo de texto, que deverá ser enviado a seu tutor por meio do ambiente virtual.

Estudo de caso

Joana, 36 anos, 50 kg, casada, dois filhos, encaminhada por seu ginecologista ao serviço de hemoterapia para transfusão de 2 unidades de CH em razão de anemia que precisava ser corrigida antes da histerectomia à que seria submetida.

Tinha história de menorragia de longa data, miomatose uterina e passado de anemia, inclusive já tendo sido tratada por uma vez com melhora, mas com retorno da anemia um tempo após o tratamento. Queixava-se de dor nas pernas, desânimo, fraqueza, sonolência e irritabilidade. Referia dispneia e palpitações a grandes esforços, além de tontura quando se levantava rapidamente. Negava uso de medicamentos, com exceção de terapia hormonal para tentar controlar a menorragia. História pregressa patológica sem alterações de importância.

Descorada ++/4+ PA = 90/60 mm Hg FC = 96 bpm Rítmica. Eupneica. Pulmões: murmúrio vesicular presente, simétrico e sem ruídos adventícios.

Hb = 9 g/dL; Ht = 27%; VCM = 76 fL; HCM = 25 pg; CHCM = 30 g/dL; RDW = 17%

Pergunta 1: Seria indicada a transfusão de hemocomponentes neste momento?

Resultados dos exames: função renal normal. Reticulócitos = 1,5%. Ferro = 30 mcg/dL. Capacidade total de ligação = 420 mcg/dL. Saturação = 7,1%. Ferritina = 12 ng/dL.

Pergunta 2: Qual a conduta a ser adotada?

Após três meses de reposição de ferro, a paciente apresentava Hb = 12 g/dL; Ht = 37% e estava assintomática. Foi programada a histerectomia, e ela foi encaminhada ao serviço de hemoterapia para preparo de unidades de CH como reserva cirúrgica.

Pergunta 3: Qual conduta a ser adotada pelo serviço de hemoterapia?

A paciente foi submetida a histerectomia com sangramento importante no intraoperatório e extração de um útero muito volumoso, repleto de sangue e miomas.

Foi liberada para o quarto e, no dia seguinte, encontrava-se muito pálida, referindo tontura ao tentar se sentar no leito, sem conseguir se levantar, dispneia a mínimos esforços, ortopneia e palpitações.

Ao exame: Pálida ++++/4+ Dispneica, ansiosa. FC = 130 bpm; PA = 80/60 mm Hg. Edemaciada. Hb = 5g/dL; Ht = 15%

Pergunta 4: Qual a conduta a ser adotada pelo médico neste momento?

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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia para uso de hemocomponentes. 2. ed. Brasília, DF, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança. 5. ed. Brasília, DF, 2016.

COVAS, D. T.; UBIALI, E. M. A.; DE SANTIS, G. C. (Ed.). Manual de medicina transfusional. 2. Ed. São Paulo: Atheneu, 2014.

FUNG, M. K. et al. (Ed.). Technical manual. 18th ed. Bethesda: AABB Press, 2014.

HEDDLE, N. M. et al. A randomized controlled trial comparing standard and low-dose strategies for transfusion of platelets (SToP) to patients with thrombocytopenia. Blood, v. 113, n. 7, p. 1564-1573, 2009.

MEYBORHM, P. et al. Patient blood management bundles to facilitate implementation. Transfusion Medicine Reviews, v. 31, p. 62-71, 2017.

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