Tópicos Módulo 3

Introdução

Bem-vindos ao Módulo 3: Hemocentro produtor e agências transfusionais.

Na primeira seção, Hemocentro produtor, descreveremos as atividades de um serviço produtor de hemocomponentes desde a captação de doadores até a liberação de bolsas de hemocomponentes para transfusão em uma agência transfusional (AT). Isso inclui as atividades realizadas desde o recebimento dos hemocomponentes e da solicitação de transfusão até sua liberação da unidade para transfusão e instalação do hemocomponente, além dos métodos de triagem laboratorial do sangue do doador e os testes imuno-hematológicos.

Na segunda seção, Agências transfusionais, abordaremos os procedimentos necessários para a dispensação de um hemocomponente desde o recebimento da requisição de transfusão, passando pela coleta das amostras pré-transfusionais, pelos procedimentos administrativos e técnicos essenciais para a realização da prova de compatibilidade entre o hemocomponente e o receptor, além de todas as atividades obrigatórias para realizar a transfusão, evitando situações que possam trazer riscos ao paciente.

Tópicos Módulo 3

Hemocentro produtor

Antes de tratar dos processos de trabalho no hemocentro produtor, procure refletir sobre por que é importante o responsável técnico (RT) de uma AT conhecer as etapas desse processo, assim como a importância de cada uma delas.

Sugerimos que você registre suas reflexões por meio de esquemas ou pequenas anotações para analisá-las à medida em que percorramos as atividades do hemocentro produtor.

Mãos à obra!

A hemoterapia vem apresentando constante evolução baseada em seu objetivo de ofertar hemocomponentes específicos e cada vez mais seguros, possibilitando melhor qualidade de vida e menor risco aos pacientes que necessitam de transfusão de sangue.

Para isso, necessitamos de processos bem definidos e mapeados dentro de padrões estabelecidos de qualidade. Concorda?

Nesta primeira parte, abordaremos o funcionamento de um hemocentro produtor, desde a captação dos doadores até o processamento do sangue doado num componente específico para atender, com a maior qualidade possível, o paciente que você, médico responsável, irá liberar para ser transfundido.

Para mais detalhes, leia a Portaria nº 158, de 4 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde.

As atividades do hemocentro produtor podem ser consideradas etapas de um macroprocesso bem desenhado e definido, que se inicia com a captação do doador e termina somente após o monitoramento dos efeitos da transfusão no paciente que recebe um componente sanguíneo. Veja a seguir com atenção.

Fonte: Elaboração de Maria do Carmo Favarin de Macedo.

Na segunda parte deste módulo veremos o macroprocesso dentro da Agência Transfusional.

Macroprocesso hemocentro produtor

Agora, analise este novo fluxo. Ele ilustra o que acabamos de ver e faz um breve resumo de todas as atividades que estão contidas no processo de trabalho de um hemocentro produtor. Clique nas imagens em destaque e estude sobre as etapas fundamentais desse macroprocesso.

Fotos: Adair Gomez [20--].

Captação de doadores

Você também pode contribuir para que as campanhas de doação e as atividades direcionadas aos candidatos sejam eficazes. Para isso é importante conhecer o que motiva as pessoas a procurar um serviço de hemoterapia para doação e os motivos que as mantêm fidelizadas a esse comportamento de doação de sangue. Alguns trabalhos da literatura estudaram as razões que levam as pessoas a doar sangue, e os fatores encontrados incluíram:

Os candidatos que buscam testes laboratoriais devem ser evitados pelos serviços de hemoterapia, pois podem trazer riscos para os pacientes que necessitam de transfusão. É importante ressaltar que, no Brasil, a doação remunerada é proibida pela Constituição Federal! A doação voluntária, altruísta, é a doação mais segura segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, da Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011).

A seguir, visite o site do YouTube e pesquise por estas campanhas de doação. Elas podem ser fonte de inspiração.

Das campanhas aqui sugeridas, teve alguma que lhe causou maior impacto? Por quê? Pense em como você pode contribuir para a captação de mais doadores.

Para saber mais sobre doação voluntária, leia o Manual de Orientações para a Promoção da Doação Voluntária de Sangue, publicado pelo Ministério da Saúde em 2015.

Seleção de doadores

Os candidatos à doação devem ser saudáveis, e o ato da doação não pode trazer prejuízos à sua saúde nem à saúde do receptor. Para tanto, no dia da doação, devemos realizar uma avaliação que inclui:

Para auxiliar os bancos de sangue na triagem dos candidatos à doação, a legislação brasileira estabeleceu critérios bem detalhados de aceitação e recusa à doação (BRASIL, 2016b) que devem servir de consulta para análise de cada situação referida pelos candidatos.

Os candidatos à doação devem apresentar as características a seguir.

Fonte: Brasil (2016b).

Todo o procedimento de triagem clínica precisa ser registrado para garantir rastreabilidade, e os registros devem permanecer disponíveis por um período mínimo de 20 anos.

Coleta de sangue do doador

A coleta é realizada em um sistema fechado composto por duas, três ou quatro bolsas, a depender da intenção do serviço de hemoterapia na produção de hemocomponentes. A bolsa mãe possui, em seu interior, uma solução anticoagulante-preservante em volume de aproximadamente 65 ml. As bolsas satélites serão utilizadas para a preparação dos hemocomponentes.

Nesta etapa, é muito importante a identificação da bolsa principal, das bolsas satélites, dos tubos que serão utilizados para coleta de amostras de sangue para realização dos testes imuno-hematológicos, sorológicos e de biologia molecular. Essa identificação deve garantir o sigilo da identidade do doador e a rastreabilidade de todo o processo.

Coleta de sangue do doado

Fonte: Catálogo Hospitalar ([20--]).

Aférese é uma outra forma de coleta, a qual depende da utilização de equipamentos automatizados que possibilitam a coleta de componentes específicos do sangue. O cadastro do doador, a triagem clínica e os testes de seleção dos doadores utilizados na aférese são os mesmos utilizados para doação de sangue total. As amostras para os testes imuno-hematológicos e sorológicos devem ser coletadas no mesmo dia do procedimento de aférese.

Os hemocomponentes mais frequentemente coletados por aférese são:

  • concentrados de plaquetas (CP);
  • concentrado de hemácias (CH);
  • plasma fresco (PF);
  • granulócitos;
  • linfócitos;
  • células-tronco hematopoiéticas.
Equipamento para coleta

Fonte: Acervo Fundação Hemominas.

Qualificação do sangue do doador

Todo serviço produtor deve realizar testes de qualificação do sangue.

Os resultados serão utilizados para a liberação dos hemocomponentes para uso transfusional. Os testes que devemos realizar na qualificação são de imuno-hematologia e testes de detecção de doenças transmissíveis pelo sangue.

Foto: Adair Gomez [20--].

Devemos realizá-los a cada doação, e as amostras coletadas durante a doação de sangue devem ser encaminhadas aos respectivos laboratórios.

Devemos garantir a rastreabilidade das amostras e dos resultados com a bolsa coletada, bem como os hemocomponentes oriundos dessa doação. As bolsas somente poderão ser liberadas quando todos os resultados dos testes estiverem prontos e liberados.

Os testes imuno-hematológicos realizados no sangue do doador para garantir a segurança transfusional são:

Registros anteriores da tipagem ABO e RhD não podem ser utilizados em doações subsequentes. Caso o doador já tenha realizado doação previamente, devem-se comparar as tipagens da doação atual com as anteriores, sendo obrigatória a resolução de discrepâncias antes da rotulagem e liberação das bolsas de hemocomponentes para fins transfusionais.

Triagem de doenças infecciosas

Nesta etapa, testes de triagem de alta sensibilidade são realizados pelos serviços produtores para doenças transmissíveis pelo sangue e as amostras colhidas no ato da doação. Esses testes devem incluir a pesquisa para detecção de:

A legislação determina quais metodologias podem ser utilizadas nos testes de triagem (BRASIL, 2016a).

Caso você queira saber mais detalhes, consulte a legislação.

Produção de hemocomponentes

Após o procedimento de coleta, as bolsas são encaminhadas ao setor de produção de hemocomponentes para serem processadas e armazenadas.

Assim que a bolsa de sangue total chega no setor de processamento, ela é registrada em sistemas automatizados ou manuais, contendo:

Armazenamento de hemocomponentes

Uma vez produzidos, os hemocomponente serão armazenados de forma adequada, a fim de preservar suas características. A imagem a seguir traz um resumo dos principais hemocomponentes e hemoderivados.

Liberação dos hemocomponentes

A última etapa da produção dos hemocomponentes consiste em sua liberação, que compreende:

Um rótulo de bolsas de hemocomponente deve conter, no mínimo, as informações deste modelo. Não esqueça de verificar se as que você produz/recebe cumprem essa exigência.

Rótulo de bolsas de hemocomponente

Fonte: Brasil (2012).

Transporte de hemocomponentes

Finalmente, chegou o momento do transporte. O serviço distribuidor é o responsável pela verificação das condições de segurança necessárias para os corretos acondicionamento e transporte do produto.

As temperaturas requeridas para o transporte dos hemocomponentes são:

Agora que você tem uma visão geral do processo de trabalho do hemocentro produtor, leia o texto completo sobre o tema para se aprofundar e qualificar seu trabalho.

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Agência transfusional

Assim como fizemos com a primeira parte deste conteúdo, antes de abordar os processos de trabalho na AT, procure refletir sobre a importância do RT em cada uma de suas etapas. Fique atento para os aspectos técnicos exigidos para um bom funcionamento. Se necessário, vá à agência em que você trabalha ou visite uma, com esse olhar.

Incorpore novos registros de suas reflexões e lembre-se de analisá-los a partir do conteúdo que será apresentado.

Siga em frente!

Foto: Maria do Carmo Favarin de Macedo.

Para assumir a responsabilidade de uma AT, você deve ter uma visão geral dos processos que nela ocorrem. Para isso, montamos um organograma que nos facilita a identificação dos processos e da relação entre eles. Clique nos botões para conhecê-los.

Fonte: Elaboração de Maria do Carmo Favarin de Macedo.

Ao terminar essa análise resumida sobre o processo de trabalho de uma AT, sugerimos que você faça uma leitura detalhada sobre cada uma das atividades. Boa leitura!

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Conclusão

É importante que, ao final desta etapa do curso, você consiga identificar os processos e os procedimentos que devem ser realizados em uma AT quando se deparar com uma requisição de transfusão. Não esperamos que você saiba executar cada etapa abordada, esse não é nosso objetivo, mas que tenha uma visão integrada de todas as etapas a serem desenvolvidas, dependam elas de sua agência ou de um laboratório de imuno-hematologia mais complexo e avançado.

Não deixe de participar da atividade do módulo e bons estudos!

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Atividade 3

Como vimos, a OMS tem proposto diretrizes para ampliar o número de doadores voluntários em todo o mundo por julgar serem estes candidatos mais seguros. As diretrizes ainda reforçam a necessidade do aumento do número de doadores em vários países para atender às demandas transfusionais, considerando valores adequados aqueles entre 20:1000 a 50:1000.

O Brasil tem alcançado valores próximos de 20:1000, mas ainda precisa de maior volume de doações para que possa se considerar autossuficiente.

A sociedade atual tem se tornado muito imediatista e, muitas vezes, há escassez de hemocomponentes para transfusões, porque não há estoques adequados nas AT, tampouco nos hemocentros produtores, por falta de doadores. Diante desse quadro, discutiremos em fóruns separados as seguintes questões:

  1. Como você vê o papel do RT de uma AT em relação à doação voluntária de sangue?
  2. No papel desse RT, considerando que sua agência atende a uma determinada região de seu município, sugira ações que possam ser coordenadas ou executadas por você e sua equipe para a promoção da doação voluntária de sangue.

Vale destacar que as atividades seguintes que incluem o conhecimento adquirido neste módulo, relacionadas às AT, serão tratadas nos módulos subsequentes.

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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 156, de 4 de fevereiro de 2016. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 fev. 2016a. Seção 1, p. 37.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 158, de 4 de fevereiro de 2016. Redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 fev. 2016b. Seção 1, p. 37.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Manual de orientações para promoção da doação voluntária de sangue. Brasília, DF, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Plano para implantação do padrão ISBT 128 nos serviços de hemoterapia. Brasília, DF, 2012.

CATÁLOGO HOSPITALAR. Bolsas de sangue por Fresenius Kabi Brasil Ltda. [S.l., 20--]. Disponível em: <http://catalogohospitalar.com.br/bolsas-de-sangue-4.html>. Acesso em: 13 jul. 2017.

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FARRUGIA, A.; PENROD, J.; BULT, J. M. Payment, compensation and replacement: the ethics and motivation of blood and plasma donation. Vox Sanguinis, v. 99, p. 202–211, 2010. 

FOLLÉA, G. Donor compensation and remuneration: is there really a difference? Vox Sanguinis, v. 109, p. 1, 2015. Suplemento 1.

FOLLÉA, G.; SEIFRIED, E.; WIT, J. Renewed considerations on ethical values for blood and plasma donations and donors. Blood Transfusion, v. 12, p. s387–s388, 2014 Jan. Suplemento 1.

O’MAHONY, B.; TURNER, A. The Dublin Consensus Statement 2011 on vital issues relating to the collection and provision of blood components and plasma-derived medicinal products. Vox Sanguinis, v. 102, p. 140–143, 2012.

NOÉ, Marcos. Diagrama de Venn. São Paulo: [Blog] Brasil Escola, 2017. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/matematica/diagrama-de-venn.htm>. Acesso em: 5 set. 2017.

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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global database on blood safety:  summary report 2011. Geneve, June 2011. Disponível em: <http://www.who.int/entity/bloodsafety/global_database/GDBS_Summary_Report_2011.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2017.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Sixty-third World Health Assembly. Agenda item 11.17. Availability, and quality of blood products. Geneve, 21 May 2010. (WHA63.12). Disponível em: <http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA63/A63_R12-en.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2017.

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Leitura recomendada

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Marco conceitual e operacional de hemovigilância: guia para a hemovigilância no Brasil. Brasília, DF, 2015.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Resolução RDC n. 34, de 11 de junho de 2014. Dispõe sobre as Boas Práticas no Ciclo do Sangue. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jun. 2014. Seção 1, p. 50.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.660, de 22 de julho de 2009. Institui o Sistema de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 jul. 2009. Seção 1, p. 45.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. Guia para uso de hemocomponentes. 2. ed. Brasília, DF, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. Imuno-hematologia laboratorial. Brasília, DF, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Técnico em hemoterapia: livro texto. Brasília, DF 2013.

CASTILLO, Lilian; PELLEGRINO JUNIOR, Jordão; REID, Marion E. Fundamentos de imuno-hematologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2015.

COVAS, D. T.; UBIALI, E. M. A.; DE SANTIS, G. C. (Ed.). Manual de medicina transfusional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2014.

DOCUMENTO de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília, DF: Ministério da Saúde: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2014.

FUNG, M. K. et al. (Ed.). Technical manual. 18th ed. Bethesda: AABB Press, 2014.

GIRELLO, A. L.; KUHN, T. I. B. DE B. Fundamentos da imuno-hematologia eritrocitária. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2002.

HARMENING, Denise. Técnicas modernas em banco de sangue e transfusão. 6. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2015.

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