UNIDADE II
Redução de risco em emergências e desastres em saúde pública

Módulo 4 • Cena 8

Informação e comunicação de risco

Na Cena 7, vimos que José Marcos (Vigilância Sanitária) tomou para si a tarefa de elaborar o PPR-Saúde do município de Bandeira.  Apesar das dificuldades encontradas, conseguiu reunir dados e informações,  colocá-los em um mapa e apresentá-los na reunião do COE-Saúde. O passo seguinte era identificar quais territórios e grupos populacionais haviam sido mais afetados pelos impactos do evento e necessitariam de ações prioritárias.

Solange (Atenção Básica) chamou atenção para as comunidades mais pobres, localizadas em áreas rurais,  em especial famílias com crianças e idosos. Fábio lembrava aos colegas que muitos usuários do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) moravam sozinhos ou com pais já idosos e isso deveria constar dos registros do município como fator de vulnerabilidade. Já Isabel estava preocupada com as gestantes que faziam todo o acompanhamento pré-natal no hospital.

Foto: Diego Baravelli. Fonte: Creative CommonsBR.

Em uma reunião com equipes de Estratégia da Saúde da Família (ESF), agentes comunitários de saúde (ACS) relataram à Solange que haviam recebido mensagens de áudio via WhatsApp de pessoas com queixas de tontura, vômito e diarreia. Algumas vinham acompanhadas de fotos de pessoas expondo os pés, as mãos e outras partes do corpo com manchas avermelhadas. Todas as mensagens partiram de moradores da comunidade de Barreirinha, na qual a lama proveniente da barragem havia chegado bem próximo das casas.

UPA
Foto: Tomaz Silva. Fonte: Agência Brasil.

Solange, ao receber a notícia, acionou a enfermeira responsável pela equipe da ESF de Barreirinha. No entanto, nenhuma pessoa havia procurado atendimento médico apresentando sintomas semelhantes ao descrito. Mesmo assim, ela insistiu e procurou informações com Marina para saber se esses casos haviam sido identificados na UPA, mas a resposta foi negativa.

Após a reunião, a caminho de casa, Solange ouviu no rádio do seu carro que a Secretaria de Saúde do município havia sido negligente com os afetados da comunidade de Barreirinha, que vinham apresentando sintomas de intoxicação pela lama 20 dias após o rompimento da barragem.

Nesse momento o secretário de saúde já era procurado pela imprensa local para dar esclarecimentos, mas antes de se pronunciar reuniu-se novamente com os integrantes do COE-Saúde. Na reunião ficou claro que todos os protocolos estavam sendo seguidos e que a população de Barreirinha estava sendo devidamente acompanhada pelas equipes da ESF. José Marcos e sua equipe reafirmaram que as ações de vigilância da qualidade da água, de alimentos e ações educativas haviam sido intensificadas pelos ACS. No entanto, todos admitiam que, pela gravidade do desastre e pela falta de preparo prévio, era possível que tivessem ocorrido falhas no processo preventivo e a lama poderia estar causando problemas de saúde na população.

Governo do Estado de São Paulo
Foto: Governo do Estado de São Paulo. Fonte: Flickr

Era preciso informar sobre os riscos, comunicar as providências que estavam sendo tomadas e confirmar se os casos de intoxicação eram reais, tudo ao mesmo tempo. Mas como relatar tudo à população sem criar alarde ou precipitar um diagnóstico incerto? Seria necessário usar estratégias de comunicação de risco.

Todos sabiam como era importante que o plano de comunicação de risco fosse bem estruturado, visto que em situações de crise as emoções e o comportamento das pessoas são afetados e elas tendem a processar as informações de formas diferentes. Portanto, cada palavra e cada atitude são importantes. Somado a isso, uma boa estratégia de comunicação de risco pode aliviar sofrimentos, proteger as pessoas e salvar vidas, pois as ajudará a tomar decisões que reduzam os riscos.

Todos também sabiam que a comunicação de risco, ainda que fundamental, não constitui uma estratégia simples, pois diferentes vivências e experiências conformam diferentes percepções de riscos.

Trabalhando no laptop
Foto: Jannoon028. Fonte: Freepick.

Ao se preparar para falar com a imprensa, o secretário de saúde, Francisco, convocou Rogério, da Assessoria de Comunicação (Ascom), para assessorar o processo. José Marcos acionou Davi, diretor de Vigilância em Saúde do estado, para reforçar as ações de vigilância na região, pois a lama havia afetado boa parte da bacia do rio Azul. Mariana, da Unidade de Pronto Atendimento, e Isabel, do hospital, tomaram todas as providências para atender aos casos de intoxicação, incluindo contato com a rede de laboratórios credenciada para fazer exames diagnósticos. Solange, da Atenção Básica, envolveu todas as equipes de ESF em ações de educação em saúde, propondo uma atuação com  o Agente Comunitário de Saúde e o Agente de Combate a Endemias. Mauro, coordenador da Assistência Farmacêutica, também foi comunicado, pois à medida que os resultados dos exames fossem emitidos, poderia surgir a necessidade de medicamentos específicos.

Eram muitas as demandas, todos tinham que estar atentos para unificar o discurso, faltava material educativo (panfletos, cartilhas) específico para o caso. Gisele, da Vigidesastre, soube do caso e enviou alguns materiais impressos e digitais para auxiliar. A participação de Davi foi muito importante, pois contribuiu para direcionar o discurso mais adequado a cada público (mídia, população em geral, comunidade afetada, escolas). Ficou determinado que somente o Secretário de Saúde falaria com a imprensa, sempre respaldado com informações dos técnicos envolvidos no caso.

MÓDULO 4 • APRESENTAÇÃO
MÓDULO 4 • ATIVIDADE 1