UNIDADE II
Redução de risco em emergências e desastres em saúde pública

Módulo 3 • Cena 7

Planejamento para preparação e resposta

Quadro com post its
Foto: Rawpixel.com. Fonte: Freepik.com.

Após pesquisarem, e reconhecendo em Gisele (MS) a pessoa mais experiente do grupo em situações como aquela, José Marcos (VS), Fábio (Caps) e Solange (AB e ESF) resolveram expor suas inquietações para ela.

Depois de ouvi-los, Gisele procurou acalmá-los. Admitindo como genuínas as inquietações dos colegas, comprometeu-se a orientar todos os integrantes do COE-Saúde a respeito dos passos seguintes.

Na reunião do COE-Saúde foi realizada uma avaliação dos danos e necessidades do setor saúde (Adan-Saúde) visando à identificação de áreas e populações afetadas para tomada de decisões. Solange (AB) expôs sua principal preocupação: quatro unidades de saúde do município haviam sido atingidas pela lama e a população daquelas áreas, que se encontravam entre as mais pobres, estava desassistida. Não havia uma rede de atenção organizada, as principais ruas e avenidas do município estavam tomadas pela lama, pontes haviam sido destruídas e muitas áreas tinham ficado isoladas, com acesso possível somente por via aérea. Era necessário encaminhar a população para atendimento em outros locais e também realizar o resgate e primeiros atendimentos nas áreas isoladas pela lama.

Foto: Diego Baravelli. Fonte: Wikimedia Commons.
Ícone de material complementar

Para conhecer mais sobre a Avaliação dos danos e necessidades do setor saúde (Adan-Saúde), leia o Capítulo III, Evaluación de daños y necesidades en salud y toma de decisiones (páginas 25 a 32), do livro Evaluación de daños y análisis de necesidades de salud en situaciones de desastre: guía para equipos de respuesta, da Organización Panamericana de la Salud.

No Guia de preparação e resposta do setor saúde aos desastres há um modelo do documento no Anexo 2 (páginas 141 a 143), baseado no que é realizado pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo.

Mas, encaminhar para onde? Como realizar o resgate e os primeiros atendimentos necessários? Como priorizar quem deveria ser primeiramente atendido, já que nas áreas atingidas se encontravam muitos idosos, crianças e pessoas com dificuldades de locomoção e necessidades especiais? Havia meios de transporte capazes de vencer esses obstáculos? Profissionais de saúde em número e especialidades suficientes na rede de atenção e para as ações de vigilância? Hospitais e unidades de saúde seguros para receber a população afetada, uma vez que surgiram boatos que uma outra barragem estava com risco de rompimento imediato? Leitos suficientes? Havia recursos para dar conta de todos os problemas e necessidades de saúde que surgissem? Tudo acontecia ao mesmo tempo, com riscos de contaminação da água por agentes biológicos e químicos, além dos problemas de saúde mental.

Centro de Operações
Foto: Cidade Silvério / Governo do Estado de São Paulo. Fonte: Flickr.

Diante de tantas dúvidas, José Marcos (VS) questionou se os dados de saúde – tanto os registros da atenção básica, como os de planejamento e administração e os da vigilância em saúde – tinham sido perdidos no desastre. Os dados conservados foram informatizados e passaram a ser importantes para o levantamento de  informações e elaboração de um mapa que ajudasse na análise da situação, com a identificação de áreas e população vulneráveis. Além disso, Gisele lembrou que era necessário rever e analisar o histórico das ocorrências de desastres e emergências na localidade para melhor compreensão da situação atual e seus possíveis desdobramentos, além da capacidade de resposta do município para enfrentamento de tais eventos: era preciso ter informações básicas, como número de leitos disponíveis, de ambulâncias, de profissionais – médicos, enfermeiros, psicólogos, motoristas, telefonistas –, bem como equipamentos e laboratórios, só para citar alguns exemplos. Esses dados tinham que estar reunidos para acesso rápido e fácil.

Todos estavam conscientes de que nem todo o território de atuação do SUS do município tinha sido atingido do mesmo modo. No entanto, as informações estavam dispersas em diferentes relatórios e sistemas e com dados desatualizados e incompletos. Não havia um Plano de Preparação e Resposta a Emergências em Saúde Pública e Desastres (PPR-Saúde).

No Módulo 4 – Informação e comunicação –, voltaremos a este ponto.

Mesmo diante das dificuldades encontradas, José Marcos manteve o foco no propósito de mapear áreas e população vulneráveis. Marina e Isabel tiveram a ideia de incluir no mapa os estabelecimentos de saúde, como a UPA, o hospital, o Caps, laboratórios e as unidades de saúde da atenção básica.

Mapa
Fonte: Isadora Vida de Mefano Silva.

Solange chamou a atenção para a necessidade de identificar as populações que estavam em áreas de risco e que poderiam sofrer danos futuros na sua infraestrutura. Mostrou aos demais um exemplo de mapa (figura ao lado) que ilustra estabelecimentos de saúde em áreas de risco  que devem ser indicados como vulneráveis a danos futuros caso aconteça um desastre.

Esses profissionais, ao mesmo tempo que respondiam a um desastre de grande magnitude, faziam dessa experiência uma mudança qualitativa na forma de gestão de risco de ESP e desastres. Boa parte das informações levantadas para a tomada de decisão serviria também para o esboço de um primeiro PPR-Saúde do município, visando a uma resposta mais organizada no futuro.

Francisco, secretário de saúde, aprovou a ideia e José Marcos tomou para si a tarefa de elaborar o PPR-Saúde, contando com o apoio e a contribuição dos colegas responsáveis por todas as áreas envolvidas.

Considerando a dificuldade enfrentada pelo COE-Saúde do município de Bandeira para análise dos danos e necessidades do setor saúde devido à falta de informações completas e atualizadas, e a importância do planejamento prévio das ações diante de situações de emergências e desastres, reflita: caso vivenciasse situação semelhante em seu município ou estado, você saberia como e onde encontrar as informações de que iria precisar? Há um PPR-S em seu município ou estado?

MÓDULO 3 • SUBSÍDIOS 1
MÓDULO 3 • ATIVIDADE 2