UNIDADE I
Gestão de risco de emergências e desastres em saúde pública

Módulo 2 • Cena 5

Gestão de risco de emergências e desastres em saúde pública

A mineradora afirmou que tinha planos de contingência e sistemas de alerta e alarme para casos de risco de rompimento, envolvendo o acionamento dos protocolos de segurança. Porém, as notícias que chegaram logo após o desastre eram de que a sede administrativa da empresa (onde encontravam-se os dispositivos de alerta e alarme), bem como um refeitório no qual havia dezenas de trabalhadores, tinham sido afetados pela lama de rejeitos.  Como a área administrativa foi atingida imediatamente após o desastre, comprometendo diretamente o centro de decisões em situações de desastre dentro da empresa, o sistema de alarme e o plano de contingência não foram acionados.

Lama inunda casas
Foto: Rogério Alves/TV Senado. Fonte: Wikimedia Commons

No segundo dia, o número de mortos só aumentava.  Apesar da esperança que muitos nutriam, era claro que seriam encontrados poucos sobreviventes, principalmente entre os trabalhadores que estavam no refeitório e na área administrativa, que distava menos de um quilometro da barragem e onde ninguém teve tempo de fazer qualquer coisa para salvar sua vida e a dos outros.

Marina e Isabel, que haviam preparado toda a rede de urgência e emergências, assim como leitos, passam a se sentir impotentes diante da impossibilidade de salvar vidas e cuidar da saúde dos atingidos, como esperavam e desejavam fazer. Ivana também, ao perceber que se envolveria muito mais com as notificações de óbitos por acidentes de trabalho.

Para outros, como José Marcos, Fábio e Solange, coordenadora da Atenção Básica e Estratégia de Saúde da Família, ficou claro que estavam diante de um tipo de evento não imaginado antes, mas que após as primeiras informações sobre plano de contingência, sistemas de alerta e alarme, protocolos de segurança que não foram ativados, que não funcionaram, tudo indicava que algo poderia e deveria ter sido feito.

Fotos: Rogério Alves/TV Senado. Fonte: Flickr.com

E mais. Para os profissionais de saúde, mesmo os que nunca tinham vivenciado um desastre daquela magnitude, com destruição de várias localidades e com rejeitos de mineração contaminando o principal rio da cidade, ficava evidente que grandes mudanças ambientais e sociais ocorreriam no município. Mesmo sem saber estimar, naquele momento, a dimensão dos danos ambientais e socioeconômicos, assim como as novas doenças e agravos que poderiam surgir, já se tornava evidente que estavam diante de novos cenários de riscos, que não se limitavam somente ao município de Bandeira e nem ficavam restritos aos impactos imediatos.

Rio tomado pela lama
Foto: Felipe Werneck - Ascom/Ibama. Fonte: Wikimedia Commons

Diante da situação em que se encontravam e da inexperiência em relação a um desastre de tal magnitude, todos os profissionais de saúde se perguntavam o que fazer.

Ao longo do primeiro mês, José Marcos, Fábio e Solange, assim como todos os outros, foram tomando consciência de que as consequências do rompimento da barragem eram maiores do que imaginavam. Márcio, que recebia muitas informações e demandas de moradores de áreas atingidas, reforçava ainda mais isso.

Era evidente para todos que o rompimento da barragem da mineradora Buffalo trouxera mudanças na dinâmica da população e dos territórios afetados. O rio Azul apresentava claros sinais de contaminação e já comprometia o abastecimento de água da cidade, além da pecuária e da produção agrícola. A atividade turística cessara e a economia estava estagnada. Também ficava cada vez mais claro que novos riscos, doenças e agravos surgiriam, sobrepondo-se aos problemas de saúde já existentes.

Embora no município houvesse uma barragem de mineração, ninguém que ali trabalhava ou morava tinha consciência de que estava diante do risco de um desastre daquela magnitude.  Bandeira já tinha passado por outros desastres, como inundações e pequenos deslizamentos de terra, porém sem óbitos.

Rede pegando peixe do rio de lama
Foto: Felipe Werneck - Ibama. Fonte: Flickr.com

A experiência no COE-Saúde, as notícias nos jornais, os debates nos meios de comunicação, tudo apontava para a necessidade de considerar o desastre e seus riscos em toda a sua totalidade (com seus fatores determinantes e condicionantes) e em toda a sua temporalidade (antes, durante e após o evento).

Francisco, Márcio, José Marcos, Marina, Isabel, Fábio, Solange e Ivana, assim como tantos outros personagens desta história, tinham cada vez mais consciência de que a redução de riscos, de emergências e desastres em saúde, era uma função essencial da saúde pública sobre a qual o SUS, com seus princípios, tinha grande responsabilidade.

MÓDULO 2 • SUBSÍDIOS 1
MÓDULO 2 • ATIVIDADE 2